sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Luis Carlos: Persistência


Luis Carlos, ou Carlinhos é um músico do Rio de Janeiro, que além de outras foi baterista da banda Static Magik que fez um barulho considerável na cena até o fim de suas atividades. Carlinhos criou a produtora Be Magic e hoje realiza eventos voltados ao rock pela cidade do Rio de Janeiro. Tivemos um produtivo bate-papo com Carlinho e o resultado você confere a seguir.

HMBreakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, fale-nos sobre você e suas atividades.
Luis Carlos: atualmente eu venho desenvolvendo um trabalho com uma produtora de shows, a Be Magic, que completará dois anos de atividade. Fizemos muitos shows e ainda estamos na correria, já que fizemos eventos o ano todo.

HMB: A Be Magic tem sido muito atuante no cenário musical, inclusive, realizando shows e workshops importantes e de grande interesse para o público. Existem planos para a expansão das atividades em outras áreas da cultura?
Luis Carlos: Sempre existe essa possibilidade porque eu vou fazendo as coisas pelas oportunidades que aparecem e por mais que eu me programe ou planeje alguma coisa futura, as coisas acabam surgindo inesperadamente e tendo melhores resultados. É sempre uma "caixinha de surpresas". Eu gostaria de fazer isso sim, tem tantas coisas legais como shows de humor, teatro, enfim, um "caminho cultural" do qual eu gostaria de explorar mais se aparecessem oportunidades, quem sabe em 2017.

HMB: Quais são as dificuldades que você encontra do momento em que decide por realizar um evento até que ele aconteça de fato?
Luis Carlos: Só em fazer algo voltado para o Rock pesado no Brasil já é sinônimo de dificuldade. Quando é voltado para o mercado nacional, as dificuldades são ainda maiores porque você tem que fazer com que o público tenha mais estímulo em comparecer, coisa que é mais fácil com as bandas gringas, essa é uma verdade e não tem como mudar essa mentalidade da noite para o dia, ainda que tenhamos hoje diversos eventos bacanas voltados para bandas brasileiras.
Eu faço tudo na marra, não tenho apoio de empresa, nem de governo algum e é feito tudo de forma independente, mas veja bem, eu não estou criticando quem faz isso, é apenas a forma do qual eu trabalho, já me ofereceram um evento onde citaram a Lei Rouanet para fazer o trabalho e eu vetei na hora, preferi recusar. Como eu disse, é uma "caixinha de surpresas", às vezes tem tudo pra dar errado e tudo acontece maravilhosamente bem, as vezes acaba tudo dando errado mesmo com tudo estruturado. Vida de produtor no Brasil é andar na corda bamba, e se bobear com linha de cerol de pipa ainda. (risos)


 HMB: E qual seria a fórmula mágica para mudar essa atitude do brasileiro de não valorizar a sua cena e as suas bandas? Acredito que por você realizar seus eventos apenas com a sua força e determinação, você deve pesquisar para saber onde está a demanda do público naquele momento e fazer o show visando o sucesso do mesmo.
Luis Carlos: A minha fórmula é não ter uma, até porque eu procuro não bater nesta mesma tecla de falar e só reclamar de cena e discussão sobre que o certo é isso e o errado é aquilo, porque isso nunca dá em nada quando na verdade alguma coisa só vai dar certo quando as pessoas colocarem a mão na massa, eu já me cansei disso há anos e quero distância.
Simplesmente eu vou fazendo as coisas porque eu gosto, se muitas pessoas me apoiam, ótimo, fico feliz por isso porque é justamente é pra eles que eu faço eventos, do contrário, paciência, ninguém é obrigado a apoiar e curtir. Eu entendo isso como uma democracia, e se um dia eu resolver não fazer mais eventos, simples, eu paro e pronto, não vou ficar reclamando.
Muitas Bandas eu não fiz porque é um "sucesso" ou porque está na "crista da onda", mas porque realmente eu gosto, e cabe ao público comparecer em massa e retribuir a banda essa força.

HMB: Hoje eu percebo um significativo aumento da qualidade do material apresentado pelas bandas ao público, seja em gravações, material gráfico ou vídeo clipes. Na questão dos shows, você acha que essa qualidade se reflete, ou eles não se importam com isso, apenas sobem lá e “descem a mão”. Existe essa preocupação com a qualidade nos seus eventos?
Luis Carlos: Existe, acho que cada vez mais temos trabalhos bem feitos, o profissionalismo das bandas melhorou bastante. É claro que aquilo que você faz não vai significar o melhor pra todo mundo, mas o importante é você fazer a sua parte e quanto ao que cada banda faz, bem, isso só depende delas e o que eles elas almejam para suas carreiras.


 HMB: Estando radicado no estado do Rio de Janeiro, que diferença você apontaria entre os demais estados em relação ao cenário da música pesada nacional?
Luis Carlos: Bem, pra mim fã de Heavy Metal é fã de Heavy Metal, não existe diferença porque a paixão é a mesma e nem as questões regionais interferem, claro que alguns estados se destacam mais do que os outros e até tem mais tradição, mas percebo que tem tido muitas coisas bacanas acontecendo, por exemplo, em Manaus e isso é ótimo!
Acho que São Paulo continua sendo uma grande força dentro do Metal Brasileiro, mas mesmo com todas as dificuldades muita coisa bacana está acontecendo na Bahia, em Santa Catarina, em tantos outros lugares onde as pessoas estão se mobilizando para fazer alguma cena.

HMB: Existem planos de expandir as produções da Be Magic para outros estados brasileiros?
Luis Carlos: Não existem planos para fazer eventos em outros estados, acho mais conveniente fazer alguma coisa onde eu vivo e sei que em outros lugares existem pessoas competentes fazendo a sua parte.

HMB: Resuma Luis Carlos em uma frase ou palavra.
Luis Carlos: Persistência.

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.

Luis Carlos: Agradeço pelo espaço cedido a mim para que eu divulgasse um pouco do meu trabalho, então, te desejo muito sucesso também e estamos juntos na batalha em prol do Rock pesado!

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Leandro Nogueira Coppi : Sou do bem!


Muitas vezes você encontra pessoas no seu caminho e algumas delas passam a fazer parte do seleto grupo daqueles a quem você admira por serem exatamente quem são. E neste caso específico, este bate-papo só serviu para engrandecer minha admiração por este batalhador do cenário da musica pesada, seja através do site Brasil METAL História ou pelas páginas da Roadie Crew (que dispensa maiores apresentações) onde é colaborador. Tive um excelente bate-papo com este ser humano incrível e o resultado vocês conferem a seguir, e claro, vejam por vocês mesmos se eu não tenho razão.

HMBreakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, fale-nos sobre você e suas atividades.
Leandro Nogueira Coppi: Muito obrigado pelo convite. É um prazer figurar no HMBreakdown, que faz um trabalho muito importante para a cena. Bem, na área musical deixei de tocar bateria em bandas há cinco anos, mas me mantenho atuante, só que agora do outro lado, já que desde então montei o site Brasil METAL História, que sempre se dedicou única e exclusivamente na divulgação apenas de bandas nacionais. Penso que sempre faltou um espaço que priorizasse o que é feito em nosso país, que ao meu ver sempre concebeu muitas bandas de qualidade em termos musicais e de produção - isso se estende aos produtores, artistas gráficos e demais profissionais que atuam na área e que também vêm realizando trabalhos de destaque. Nesse tempo todo, também venho atuando como colaborador ativo da revista Roadie Crew, que tem sido guerreira em conseguir estar ativa e mantendo a mesma frequência de lançamentos das edições. Com o advento da Internet, é muito difícil manter vivo um veículo desse porte.

HMB: Concordo com você no que diz respeito à Roadie Crew em se manter, diante da atual realidade. Como tem sido a aceitação do Brasil METAL História? E quais são as dificuldades que você encontra no dia a dia para manter o site não apenas ativo, mas relevante pra o cenário?
Leandro: Felizmente, o Brasil METAL História conquistou o respeito de público, bandas e profissionais do meio musical, porque fazemos um trabalho honesto, que não se prende apenas às divulgações vindas por assessorias, ou seja, o espaço é aberto pra todos. Outra coisa que agrada muita gente é o fato de não nos restringirmos a um gênero ou outro, ou seja, do mais simples Rock and Roll ao mais brutal Black Metal, todo mundo tem portas abertas conosco, sem radicalismo e sem discriminação. Quanto às dificuldades, elas são muitas, ainda mais que nossa equipe é pequena e a nossa estrutura é limitada. Mas somos dedicados e sempre reservamos um tempo do nosso dia para manter o site e a página ativos. A relevância do Brasil METAL História se dá com resenhas, matérias, coberturas de shows e entrevistas de bandas de diversos gêneros do Rock/Metal e também com a criação de seções inéditas, como é o caso do "Raio X do Disco", que criamos para que os autores das letras de um disco específico possam falar sobre cada uma delas. Muita gente que se interessa pelas letras de um disco, ficava restrita a interpretá-las, já que não existia um espaço em que elas pudessem ser explicadas pelas bandas. Pensamos sempre no que o público se interessaria em ler, ainda mais porque a pratica da leitura é mísera no Brasil e você tem que tentar ganhar o interesse das pessoas por essa prática. Esse é um dos motivos pelo qual não damos nota em resenhas de álbuns ou DVDs, o que é outro diferencial nosso.


HMB: Vejo que você busca a qualidade máxima nos seus afazeres, seja com o Brasil METAL História ou com a Roadie Crew, sendo assim, como você enxerga, hoje,  o cenário brasileiro, como um todo, seja em bandas, publicações, sites, blogs e etc?
Leandro: Obrigado pelo comentário. Felizmente, vejo que o número de espaços para divulgações de bandas e afins tem crescido nos últimos tempos. Muita gente, aos trancos e barrancos, tem se dedicado a fazer algo positivo pela música, seja ela qual for. Quanto as bandas, assim como produtores, artistas gráficos e outros profissionais, como mencionei anteriormente, muitos deles têm apresentado trabalhos de muita qualidade. Por outro lado, vejo que tem tido muita repetição, muitas fórmulas parecidas, principalmente entre algumas bandas de Thrash Metal e de Metalcore. Outra coisa negativa é o fato de que num país como o nosso, que tem milhares de músicos, o Hard Rock ainda não decolou. É rala a quantidade de bandas representantes desse gênero. Algo que também enxergo como preocupante, é o fato de que algumas casas de shows têm anunciando o fim de suas atividades, só em São Paulo perdemos o Blackmore Rock Bar, o Hangar 110 e o Inferno Club. Em suma, muita coisa tem melhorado no cenário nacional, mas outras tantas precisam melhorar. Uma delas é a questão dos preços altamente abusivos de ingressos de shows internacionais, com suas taxas de conveniências acopladas com valores tão abusivos quanto. Porém, onde há demanda... O brasileiro reclama, mas shows de grande porte estão sempre lotados.

HMB: Engraçado que agora que você falou eu percebi, sempre achei o Hard Rock a vertente mais popular entre as pessoas, mas as bandas brasileiras não decolam mesmo. Sobre o fato de muitas casas de shows estarem fechando as suas portas, qual você acredita ser o motivo disso, já que boa parcela diz que a culpa é da situação econômica do país e a outra de que é da falta de público?
Leandro: Acredito que ambas as coisas são fatores principais para essa situação. As pessoas não estão mais tendo dinheiro para sair e se divertir. Muitas estão desempregadas por culpa desse momento catastrófico que o país vive. O governo rouba e as patifarias são "arrumadas" com o dinheiro do trabalhador, que hoje está perdendo emprego, benefícios, aposentadoria... A maior parte da população brasileira não vive, sobrevive! Mas em grande parte, a culpa do afastamento do público é das próprias casas. Eu conheço muita gente que diz que não vai mais a casa "x" ou "y", porque algumas delas, em dias de calor, por exemplo, mantém o ar condicionado desligado para forçar a pessoa a comprar bebida no bar interno. Pô, na maioria das vezes, além do ingresso, a consumação é cara, tem estacionamento, combustível, transporte. Os donos de algumas casas ignoram isso. Só que é ação e reação. Além de tudo, uma das que citei que fechou, pegou a fama de tratar muito mal os clientes, tirando-lhes inclusive, a liberdade de expressão para reclamar do que não estava achando legal na casa.


HMB: Eu acho que o brasileiro é incapaz de valorizar o seu próprio cenário, como ele merece? Qual a sua visão sobre isso?
Leandro: Não sei se ele é incapaz, eu diria que muitos são desinteressados, preguiçosos mesmo. É cultural esse pensamento pobre de espírito que o brasileiro tem de, seja no que for, valorizar sempre (ou em grande parte) o que vem de fora. Na minha infância, na época de escola, haviam alunos que caçoavam daqueles que não tinham condições de ter um tênis importado. Se você aparecesse com um bamba "cabeção" ou um kichute, logo virava motivo de piada daqueles que iam de Nike, New Balance etc. Veja o caso do Sepultura, como todos sabem, eles tiveram que ser reconhecidos no exterior para depois serem respeitados por aqui. Tem gente que nem sai de casa pra ver uma banda brasileira e fica reclamando que o motivo é que elas não têm qualidade. Balela! Como você julga a qualidade de uma banda sem sair de casa para saber? E em um celeiro tão repleto de bandas dos mais diferentes estilos, ninguém me convencerá de que não há qualidade. Toda generalização, pra mim é burra! Mas cá entre nós? Até mesmo algumas bandas são culpadas, a partir do momento em que  elas não fazem questão de elogiar ou divulgar o trabalho de outras, e nem de ficar dentro da casa prestigiando os shows daquelas que estão tocando no mesmo evento. Quer queira ou não, isso cria uma rivalidade, uma dor de cotovelo, uma competição desnecessária e até mesmo infantil.

HMB: Penso igual você nessa questão, como pode ter competição num nicho que muitas vezes a oportunidade de se apresentar é comprada, onde os estúdios tanto pra gravação ou ensaio são caros, o público é escasso? Não seria o caso de mostrar maciçamente ao público que em nosso quintal existe qualidade? Já que os grandes trabalhos estão sendo lançados, os grandes shows são feitos, em resumo, na sua visão, qual seria o trabalho a ser feito, visando a mudança dessa mentalidade provinciana do público?
Leandro: Sinceramente? Acho difícil mudar algo quando ele é cultural. Mas a divulgação é sempre a alma do negócio. Num mundo virtual em que tudo hoje em dia é lançado como um trator sem freio numa ladeira, seja uma notícia, um disco, um videoclipe, um site, ou algo assim, você tem que martelar a divulgação do seu trabalho, mas sem se tornar chato. Mais vale divulgar duas novidades por semana, do que dez em um dia só. A quantidade deve ser constante, porém, a qualidade deve acompanhar o processo. No caso das bandas, por mais que seja difícil, principalmente em termos financeiros, lançar álbuns constantemente, ao menos um single por ano, ou, de preferência, a cada seis meses, é legal apresentar ao público para que você não caia no limbo do esquecimento. E quando eu falo em qualidade, estou incluindo até a divulgação extra-musical: ter uma foto decente da banda, em alta definição, com um visual condizente com seu lado artístico, um release bem elaborado, sem encheção de linguiça e bem escrito, uma página ou um site que contenham informações básicas e indispensáveis e por aí vai.


HMB: Já me deparei com situações bem complicadas, de ter uma matéria ótima em mãos de determinada banda, e não conseguir fotos, logotipo, capas de CDs e outros materiais indispensáveis para que se faça uma boa publicação, acho que neste quesito as assessorias de imprensa ajudam muito, mas ainda é bem complicado ter em mãos alguns desses materiais. Como você lida com este tipo de situação?
Leandro: Mas olha, tem casos em que nem as assessorias se preocupam com isso, de ter nem que seja no site dela, o 'presskit' da banda disponível. Acho que cada banda tem que analisar que ela é seu próprio cartão de visitas. Eu nunca deixei de, por exemplo, resenhar uma banda por falta de material, mas ter que ficar caçando foto, release, links e capa, além de ser chato, gera um trabalho desnecessário. Quando não encontro, tenho que ficar pedindo pras bandas ou pras assessorias, mas enquanto aguardo retorno das mesmas, faço a fila andar e acabo resenhando na frente o material de quem enviou depois, mas que pelo menos mandou com tudo completo. São essas pequenas coisas que muitas vezes mostram a forma com que cada banda valoriza o próprio trabalho.

HMB: E por falar em bandas, você tem sentido uma melhora significativa na qualidade do material apresentado? Pergunto isso, porque eu acredito que de tempos em tempos as bandas brasileiras galgam um ou mais degraus, vide o último trabalho da Nervosa, Agony, que para mim atingiu um patamar acima de todas as produções de bandas brasileiras.
Leandro: Costumo receber muito material de bandas brasileiras e posso afirmar que em termos de produção muita gente tem caprichado. Com as ferramentas que todo músico tem à disposição, que possibilitam produzir boas gravações, até mesmo através de programas instalados em seus próprios computadores, não há mais desculpa de que não atingiu um resultado satisfatório por falta de grana, já que atualmente não necessariamente você fica refém de um estúdio de gravação. Por outro lado, tem aqueles que exageram na utilização dessas ferramentas e acabam deixando o som perder a organicidade. Muitos produtores se aperfeiçoaram de tal forma, que há anos não se faz necessário recorrer a um estrangeiro para comandar os botões. Mas como nem tudo são flores, há quem ainda não dispõe do mesmo capricho. Quando isso acontece, tanto eu, quanto vários outros redatores procuramos dar toques em nossas resenhas. Muita gente absorve nossas opiniões numa boa e até nos agradecem, outras (bem poucas, por sinal), infelizmente pensam que estamos sendo chatos, ou que estamos pegando no pé etc...


HMB: Eu acho que a função do crítico é justamente apontar qualidades e defeitos de determinada obra, visando justamente apontar o que pode ser melhorado, claro, cada um dentro da sua realidade e do seu conhecimento. Você acha que os músicos brasileiros se sentem ofendidos com uma crítica negativa?
Leandro: Alguns sim, pois quem gosta de ser criticado negativamente? Mas há aqueles que entendem o nosso trabalho e que até preferem as críticas, já que uma visão de fora pode ser bem vinda para quem está dentro e não consegue perceber algo que pode ser mudado para melhor. Claro, há de se ter coerência para que sua crítica de fato tenha a ver com o que está sendo analisado. Mas também não somos os donos da razão e com o passar do tempo aprendemos a gostar de algumas coisas que em um primeiro momento não nos cativou. O ser humano é suscetível às mudanças, havendo respeito e honestidade de ambas as partes, músicos e imprensa convivem muito bem.

HMB: Um ponto que eu sempre aborto, será que com algum tipo de incentivo público, o cenário da música pesada nacional poderia vir a crescer e atingir um público maior com a realização de mais festivais e lançamentos?
Leandro: Com toda certeza! Pego como exemplo o caso do "Rock Na Praça", que levou muita gente a prestigiar as bandas que tocaram em cada uma de suas edições. Isso deveria acontecer com mais frequência, já que o dinheiro que o poder público cobra da população através de taxas e impostos, nem sempre é revertido em benefício da mesma. Todo o tipo de incentivo e de divulgação será sempre bem vindo, ainda mais para um gênero como o Rock/Metal que nunca foi bem quisto pela grande mídia.

HMB: Resuma Leandro Nogueira Coppi em uma frase ou palavra.
Leandro: Nossa! Essa é a pergunta mais difícil que eu já respondi. Mas, bem, sou um cara sempre disposto a somar para a cena e também sempre presente nos eventos, não apenas para cobrir shows, mas também para manter vivo aquele espírito de sair de casa para curtir bandas e, principalmente, para rever amigos e fazer novas amizades, ao invés de ficar pela Internet disseminando ódio, como muitas pessoas fazem, principalmente nesse período em que a política serviu de argumento para que muitas relações fossem cortadas. O ser humano está precisando aprender a viver com mais paz e harmonia e não com tanto rancor, respeitar a natureza e os animais, que são seres indefesos perante a nossa crueldade. Enfim, sou do bem.

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Leandro: Realmente foi muito bacana trocar essa ideia JP. Obrigado pelo espaço e pela disposição em conhecer um pouco mais sobre os meus pontos de vista. Continue sempre somando para a cena, pois isso é importante para que o todo se fortaleça. A você leitor deixo meu agradecimento por ter dedicado um tempo para ler essa entrevista e um recado: reflita sobre o que comentei na pergunta anterior e respeite o seu semelhante, a natureza e os animais. Somos só um monte de carcaças pensantes, que habita este planeta de forma temporária, então vamos cuidar dele da forma que procuramos cuidar de nossa própria casa. Paz, saúde e música boa à todos!

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Gleison Júnior: empreendedorismo a serviço do Metal


Qualquer um que tenha o mínimo interesse pelo Heavy Metal neste país conhece ou pelo menos já ouviu falar de Gleison Júnior, o homem por traz do nome Roadie Metal, que abrange tantos serviços quanto vocês puderem imaginar, tudo em prol do que ele ama e do que acredita. Tivemos um bate papo interessantíssimo com Gleison, que foi muito sincero e direto em suas respostas, mostrando que além de empreendedor é um cara de visão. Confira a seguir.


HMBreakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, fale-nos sobre você e suas atividades.
Gleison Júnior: Tudo começou quando alguns amigos mais próximos me pediam sempre indicações de bandas novas e nacionais, no qual eu sou um profundo apaixonado e pesquiso sempre, após isso eu acabei me mudando para a cidade de Goiânia, no qual um tio meu é dono de uma Web Rádio, Canal Felicidade, em uma das visitas que fiz a ele, acabei pedindo uma oportunidade para apresentar um programa voltado ao Metal, indo na contra mão da proposta da rádio, mas o mesmo concedeu de imediato a oportunidade e ali se iniciou a Roadie Metal, programa que apresento oficialmente desde o dia 10 de maio de 2014, após isso através da Roadie metal, lancei 8 coletâneas físicas envolvendo mais de 250 bandas brasileiras, criei a assessoria de imprensa da Roadie Metal e estamos em processo de finalização do primeiro e único DVD de clipes da história do Metal nacional, isso sem contar o site da Roadie metal e ser o único programa de metal em uma FM no estado de Goiás.

HMB: Que tipo de adversidades você encontrou pelo caminho nesses anos?
Gleison: O mais difícil com certeza foi à falta de apoio no início e a desconfiança de muitos com o trabalho, sem contar os vários invejosos que sempre buscam armas para tecer críticas ao trabalho feito, mas tudo isso eu resolvo com apenas uma coisa, trabalho, enquanto muitos metem o pau e saem criticando, ao invés de fazer algo para o cenário, eu mantenho meus pés no chão e vou seguindo com trabalho e a constatação que isso está sendo bem feito é o crescimento diário que a Roadie Metal vem obtendo, tanto por parte do público quanto por parte das bandas.

HMB: Visto que nos dias de hoje às pessoas demonstram pouco ou nenhum interesse pelo lançamento e pelo material das bandas brasileiras (salvo raras exceções), porque você resolveu investir e lançar as coletâneas Roadie Metal?
Gleison: Justamente para tentar trazer o interesse do público, se para as bandas hoje é difícil vender e divulgar os materiais físicos. Imagine sem um apoio ou estrutura por trás delas, a intenção foi justamente facilitar a elas a divulgação, claro que é impossível uma coletânea com 34 bandas, conseguir agradar a todos de ponta a ponta, mas tenho certeza que cada um que ouviu ou possua uma das edições da coletânea da Roadie Metal, conheceram ou começaram a acompanhar algumas bandas, suas preferidas, através das edições. Isso é algo que acho foda, saber que alguém lá em Manaus hoje possui uma edição e se tornou fã da banda X por conhecer ela através da coletânea.
Outro fator importante ao lançar uma coletânea, visando à ideia da primeira edição, no início da Roadie, eu me deparava com várias bandas e músicos tendo dificuldade em divulgar e expandir seus trabalhos, com isso eu comecei a pensar uma forma de ampliar isso e de fato na época me lembro de apenas duas coletâneas sendo lançadas no Brasil, isso em material físico, sem contar que uma delas tinha bandas de todo o planeta, dando espaço para apenas umas três ou quatro bandas nacionais e a outra era apenas de um estilo, confesso que posso estar me esquecendo de outras que já foram lançadas, mas na época eram essas que tinham força, hoje uma delas não existe mais e a outra continua com sua ideologia de mesclar trabalhos de bandas de todos os locais, se reparar vai ver que a Roadie Metal fez um pouco de história, não por inventar a roda, mas por reviver algo que já foi muito importante, olhe ao redor o tanto de gente que está tentando ou lançando uma coletânea, até pessoas próximas a Roadie entraram nessa, desejo todo o sucesso do mundo, afinal isso é necessário, mas só os fortes irão sobreviver (risos).

HMB: Agora, na edição de número 8, você resolveu lançar a coletânea em DVD, porque optou por este formado e qual vem sendo a aceitação da ideia e deste tipo de material pelo público?
Gleison: Domingo é um dia que eu procuro não fazer nada, apenas curtir a esposa e os filhos, e em um desses domingos eu acordei com uma vontade de fazer algo diferente, algo jamais feito e que seria inovador e de súbito me veio o pensamento em fazer uma coletânea em DVD, apenas com clipes oficiais de bandas brasileiras, imediatamente comecei a pesquisar sobre isso e se já havia sido produzido algo nesse padrão no Brasil.
No mesmo dia liguei para o Vitor Rodrigues do Voodoopriest e lancei a ideia a ele, o cara adorou e de imediato já disse que a Voodoopriest estava confirmada no projeto, pesquisei por quase dois meses com produtores, imprensa, selos, distribuidoras e vários outros meios, todos afirmando que jamais haviam produzido isso no Brasil, então comecei meio que na surdina a conversar com bandas que possuíam material para o projeto, fiquei impressionado pelo interesse dos músicos em participar do DVD, somente quando eu finalizei as vagas que anunciei a produção desse trabalho, enfim hoje posso ter a certeza que a Roadie Metal será a primeira a lançar uma coletânea em DVD com clipes oficiais e distribuição gratuita no país.

HMB: Isso quer dizer que a Roadie Metal em seus lançamentos em CD irá ser substituída pelos DVD´s de agora em diante?
Gleison: Creio que não, afinal não são todas as bandas que possuem de recursos para produzirem um clipe, mas a ideia e diminuir a produção das coletâneas físicas, creio que o volume 10 pode ser uma das ultimas nesse formato, confesso que produzir uma coletânea é algo cansativo e complicado. Participo ativamente de todo o processo, desde a arte ao processo de prensagem. O DVD a ideia é lançar um por ano. Janeiro ou fevereiro sai o volume 1 e creio que em 2018 o volume 2.

HMB: Qual o critério usado para escolha das bandas que farão parte dos seus lançamentos?
Gleison: O critério é muito simples, a banda necessita ter um clipe profissional, não aceito lyric vídeo e nem web clipe e aceitar nossas condições e termos para participar do DVD.

HMB: Sim, entendo, mas eu me referia não apenas as coletâneas em DVD, mas as em forma de áudio também.
Gleison: Sim eu entendi sua pergunta, a resposta foi exatamente sobre os dois formatos, quando menciono coletâneas físicas me refiro as de áudio.

HMB: Hoje o nome Roadie Metal é associado ás coletâneas, ao seu programa de rádio e a sua assessoria de imprensa, como você se desdobra para dar conta do recado com tantos afazeres no dia a dia?
Gleison: Você se esqueceu de mencionar o site, no qual tenho 22 redatores e dois editores que sempre tenho que estar á disposição para esclarecer alguma dúvida e apresentar as pautas principalmente do quadro “Roadie Metal Cronologia”, confesso que para que tudo ande bem engrenado eu tive que remontar meu planejamento, geralmente quando começo meu dia eu já tenho o roteiro montado na minha agenda, tudo que faço foi devidamente anotado no dia anterior, essa organização me ajuda e muito para controlar meu tempo e não deixar nenhuma falha nas minhas responsabilidades.

HMB: E hoje, seus trabalho se pagam? É possível custear os investimentos e gastos e ainda viver do seu trabalho, ou você ainda busca outras fontes de renda?
Gleison: Claro que é pago, hoje em dia muita gente acha que um trabalho de divulgação em alto nível é possível ser feito de coração, mas não, infelizmente não possuo os recursos necessários para poder bancar uma coletânea com uma tiragem alta totalmente de graça, o Metal nacional não possui investidores para esse tipo de projeto, uma banda que ousa e busca maior evidência sempre irá investir no seu trabalho, seja em uma publicidade em revista, site, rede social ou em uma coletânea, ao investir na coletânea da Roadie Metal a banda está assegurando receber uma quantidade desse material para ela poder vender, distribuir, sortear, da forma que ela quiser, sem contar que a coletânea Roadie Metal é distribuída gratuitamente para vários veículos de comunicação, com resenhas pontuais nos principais meios do Brasil, existe a distribuição para o exterior no qual mando quantidades de CDs para selos, produtores e distribuidoras, a arte gráfica e de prensagem me custam caríssimos sem contar os custos dos correios, para eu enviar apenas os álbuns das bandas custa em média R$30,00 por envio, eu geralmente envio 250 pacotes, incluindo mídia, bandas, público e exterior. Ninguém é obrigado a participar, mas as bandas que participam no fim sabem que o investimento foi válido, sua banda tem a divulgação massiva feita por mim que incluí a distribuição das coletâneas, sendo que apresento a todas as bandas as respostas que obtenho em resenhas, divulgação individual de cada uma no site da Roadie Metal, divulgação no programa de rádio, sem contar a evidência em que ela entra ao participar, tenho muito orgulho hoje de ser responsável por uma das principais coletâneas de divulgação do país.
Para ter uma ideia, falando sobre o DVD, quando ele sair irá ser um projeto ousado, o custo real desse investimento feito por mim é de R$8.000, isso se deve ao fato de eu não querer um simples DVD, no qual tu abre o case pega a mídia coloca em seu aparelho e pronto, assiste o DVD, não, a ideia é causar impacto e com isso desenvolvi um projeto junto a empresa que irá prensar o material, no qual ao se obter o DVD e ao abrir ele, você terá um livro com aproximadamente 36 páginas, sendo cada página direcionada exclusivamente a uma banda, nessa página terá o release, foto da banda e do álbum, letra da música, formação, links de acesso, telefone de contato e outras informações que agora me fogem da cabeça, esse valor chegou a esse custo devido justamente a quantidade de laminas que serão utilizadas no livreto, agora imagine mais os custos dos correios, que só saberei no dia da postagem do material.
As bandas investem no projeto e eu garanto o retorno da publicidade e divulgação.

HMB: Qual é a sua visão do cenário da música pesada nacional?
Gleison: Essa é uma pergunta complicada e de duas pontas, a primeira é a vasta e maravilhosa quantidade de bandas novas que surgem no cenário. A força e manutenção em alto estilo das veteranas do nosso cenário, lindo ver bandas como Claustrofobia, Torture Squad, Panzer e várias outras lançando álbuns magistrais, ver como a cena se renova com bandas que surgem com produções impecáveis e belíssimos conceitos criados em suas obras.
O outro lado como dito que eu vejo como ponto fraco é a falta de união, o que tem de gente tentando derrubar o outro por inveja, ou simplesmente não ser capaz de criar algo útil é algo assustador. Outro ponto ruim é a pouca oportunidade que muitas bandas novas possuem para se apresentarem nos grandes festivais, esse ano muitos festivais ou iniciaram ou voltaram, ok! Apoiando o metal nacional, importantíssimo isso, mas olhando bem, quantas bandas novas realmente tiveram oportunidade nesses festivais? É culpa dos produtores? Acho que não, afinal se tu montar um cast só com bandas novas, não chama o interesse do público, mas de cinco bandas que participam desses festivais uma ou duas fossem da safra nova, estariam esses produtores ajudando a formar as novas lendas do metal nacional? Acho que sim, mas infelizmente isso não é visto por eles.
Dou meus parabéns aos produtores do underground, que fazem o lance na raça e as coisas mesmo sem condições mínimas de qualidade, simplesmente acontecem e as bandas conseguem apresentar seus trabalhos.

HMB: E em sua opinião, não acha que se tornou cultural ao povo brasileiro denegrir o seu produto (seja ele qual for) em comparação ao produzido em outros países (sejam eles quais forem)?
Gleison: Um fator importante a se pensar antes de responder isso é: primeiro que na Europa ou EUA se você gostar de algo produzido, tu tem que comprar, download ilegal gera multa e dependendo dos casos da cadeia e processo, no Brasil a conversa é diferente, aqui grande maioria não valoriza o material das bandas, isso é fato, são poucos que ainda compram e disponibilizam verba para aquisição do produto nacional, afinal se tem de graça na internet, por que diabos vou gastar meu dinheiro!! Infelizmente é o pensamento de grande maioria, costumo chamar esse povo de metaleiros de facebook, acham que seu like é o suficiente para uma banda sobreviver. E tome Anita, Mc Gui, Maraia e Maraiza ao povo. Isso que o Brasil merece, se a banda “ Melanie Klain” vendesse 1.000,000.00 de copias com todo certeza estariam no Faustão ou Gugu, mas não, quem vende é o lixo massivo imposto pela mídia alienadora, depois vem dizer que Headbanger é uma filosofia diferente e inteligente e reclamam da grande mídia nunca dar espaço ao Metal, mas é claro dar espaço ao que não gera dinheiro? Quem em sã consciência faria isso?

HMB: Uma vez que quase não existe o incentivo financeiro de instituições públicas para que sejam feitas mais e melhores produções para o gênero e o público por si só não é capaz de gerar receita para a manutenção do cenário e também absorver a grande demanda de bandas que surgem todos os dias, seria o Brasil, uma nação de Web-Bangers?
Gleison: Pergunta interessante e complicada de responder mas em grande parte sim, somos uma nação de Web-Bangers, a grande maioria não se interessa mais em partilhar momentos e oportunidades com presença física, ou ate mesmo a compra de material, se bem que ao se analisar eventos de bandas do Mainstream ainda somos considerados um dos melhores locais para se tocar, mesmo o país em crise o Headbanger brasileiro sempre terá R$ 700 ou mais para ir a um grande show, mas aqueles R$ 20 para comprar um CD do amigo ou ate mesmo ir no show, nunca tem. Isso só irá mudar, quando a mentalidade do público mudar, agir com força e atitude nas redes sociais, não te faz um Headbanger e sim prestigiar, comparecer, convidar e levar o público até a banda é o que diferencia o verdadeiro apoiador do Metal nacional.

HMB: Apesar de sempre muito bem produtiva, percebo que nosso cenário deu um salto de qualidade há uns 10 anos, a que você credita essa mudança, onde a busca pela qualidade dita os caminhos e produções hoje em dia?
Gleison: Isso é uma soma de fatores, uma banda é como uma empresa, é necessário buscar sempre a melhor qualidade em seu produto na hora de apresentar ao seu cliente, hoje temos sim uma vasta melhoria na qualidade das bandas, poucas ainda não perceberam essa necessidade e recorreram as melhorias, além de se preocupar com a qualidade, hoje o mercado áudio e visual tem uma quantidade maior de empresas a dispor de produções com altíssimas tecnologias e preços mais acessíveis, além é claro de atualmente a própria tecnologia estar a serviço de todos e com extrema facilidade é possível você baixar e instalar programas de áudio e imagem para que as próprias bandas trabalhem a produção de suas musicas, mas claro que um produtor sempre é importante e imprescindível para as bandas.
Concluo que hoje a evolução da informação, fácil acessibilidade aos softwares de produção e maior quantidade de empresas que prestam esses serviços, facilitam e muito a vida das bandas na procura de melhorias a sua música.

HMB: Resuma Gleison Júnior em uma frase ou palavra.
Gleison: Essa é definitivamente a pergunta mais dificil, definir eu mesmo, bom vamos lá (risos), antes de tudo sou um cara muito família, apaixonado pelos meus filhos e esposa, sou muito grato a todos do metal nacional que acreditam em meu trabalho, sinto um amor incondicional pela música criada por nossos músicos e enquanto houver força, eu estarei aqui honrando o nome do Metal brasileiro.

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Gleison: Primeiramente muito obrigado a você JP, pelo espaço concedido, espero que as pessoas leiam saibam interpretar minhas colocações nesta entrevista, o recado mais importante que deixo é que ajudem o cenário nacional, compre material, vá aos shows do Underground, compartilhe as notas divulgadas pelas bandas, LEIA mais e deixe sua preguiça de lado. E se tu é um amante do Metal, eu te saúdo!

domingo, 9 de novembro de 2014

Camila Porto, gosto da liberdade que temos para criar.”


Camila Porto, vocalista da banda Swett Storm, além de designer da Three Gates ArtSign, com muita dedicação, ela faz dos seus trabalhos um estilo de vida e uma forma de se expressar. Conversamos com Camila, e nesse bate papo esclarecedor, pudemos conhecer um pouco mais dessa batalhadora do Underground. Confira a seguir.

HM Breakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, fale-nos sobre você e suas atividades.
Camila Porto: Bem, eu gostaria de agradecer pela oportunidade da conversa, é sempre bom este bate papo.
Eu sou Camilla Porto, vocalista da banda Sweet Storm e também desenhista na empresa Three Gates ArtSign. Trabalho com divulgação de bandas, mas minha principal atividade é a arte. Comecei fazendo arte apenas para mim e para a minha banda, e depois comecei a fazer assinaturas para fóruns de jogo e também de música, onde eu frequentava muito. Com o passar do tempo, notei que as ideias amadureceram muito, e eu percebi que a banda precisava de algo mais profissional, então comecei a estudar e ainda estudo técnicas de montagens e desenhos no photoshop. Percebi que, assim como minha banda, a maioria das bandas sofriam com a falta de artes bem elaboradas. Juntei-me ao Peterson e mais alguns amigos e formamos a ThreeGates ArtSign, cujo intuito foi oferecer gravações Demo com baixo custo e o foco principal foi a elaboração de trabalho artístico mais em conta para as bandas também. E vem dando certo, o negócio ainda não deslanchou, mas fico muito grata em trabalhar com a maioria dos músicos que já me deram a oportunidade de colocar minha arte em seus trabalhos.
Este trabalho de divulgação eu faço desde os 16 anos, quando o Myspace era febre e as comunidades no Orkut bombavam. No início, minha ideia era simplesmente conhecer mais sobre mais bandas, foi uma época em que eu baixava e compravas discos, e quanto mais eu ouvia, mais bandas eu queria conhecer, sem me importar com o estilo, bastava eu gostar. Era surpreendente poder conversar com bandas que eu escutava. E isso foi evoluindo, passei a ter um zine, mas infelizmente hoje eu não tenho tempo para continuar, mas garanto que foram ótimos cinco anos. Hoje eu só comando algumas páginas que compartilham informações totalmente underground e brasileiras. Não que eu tenha algo contra o mainstream, mas o underground precisa de mais força e gente trabalhando nele.
Há três anos meu principal foco vem sendo dentro da banda Sweet Storm. Embora pareça clichê, é o meu sonho. Tudo que eu puder fazer por essa banda, farei. Tocar ao lado do Peterson e do Tanaka é vitalizante e esplêndido, é incrível nossa sintonia. Somos crianças e adultos ao mesmo tempo, eu amo a música que fazemos e sei que não se parece com nada que eu já escutei, isso é o que me faz amar ainda mais nosso trabalho, pois ele flui com a nossa cara, é algo nosso.
Estou terminando meus estudos e pretendo em breve ingressar em uma faculdade de música, pois sei que quanto mais eu puder somar na minha música, mais posso contribuir para a cena musical brasileira.

HM Breakdown: E como foi, na época, a aceitação do seu fanzine? Você acredita que o cenário Underground é movido pela paixão das pessoas?
Camila: Eu sempre fui uma pessoa sem papas na língua, quando eu via algo que, na minha concepção, era errado, eu falava. Na época o pessoal adorava, tinha muito pouco canal via internet que oferecia uma divulgação gratuita, nem todos tinham internet em casa, e era o máximo, eu chegava a fazer matéria com cerca de cinco ou seis bandas por semana. Havia pessoas do contra, cheias de frescura. Eu sou de uma cidade que sempre teve muita “panelinha”, conheço gente de banda que se mudou de Uberaba para ter oportunidade, pois aqui não há oportunidades, eram boas pessoas, que faziam um excelente som, mas precisavam ser ouvidas. Ao mesmo tempo em que a maioria adorava o underground, havia os do contra, os que não querem conhecer material novo, que entortam o nariz para som autoral, mas eu não estava nem ai, queria mesmo que aquelas bandas fossem ouvidas. Mais recentemente o zine ganhou um blog, que hoje está fechado. Ele cresceu muito, ganhou colunas, falávamos até do meio ambiente, mas tudo de uma forma underground, gostei muito de falar de tudo, desde o ambiente, a música e o visual do underground, pois afinal isso não é apenas um estilo ou uma música, é um habitat.
Sim, eu acredito e tenho certeza que o underground é movido pela paixão e pela força de vontade. É difícil mexer com isso, como tudo que você faz na sua vida, é complicado de ser feito, pois a partir do momento que algo não depende apenas de você, e sim de vários indivíduos e questões, torna-se complicado. Mas o underground é muito forte, e o melhor de tudo, ele é livre e maior do que pensamos.

HM Breakdown: E como você vê o fato de hoje em dia as pessoas estarem se tornando Web-Bangers e só levantarem a bandeira para deteriorar o que está sendo feito?
Camila: Eu acho errado certas atitudes de egoísmo nesse meio que a gente vive. Hoje, com o avanço da tecnologia, não é apenas o nosso meio musical que anda vivendo online, todos estão assim, o que torna um maior do que o outro é a quantidade de fãs. Eu gosto de pensar e acho certo que cada um tem que contribuir de uma forma ou de outra. Se você não pode ir a eventos, então compre material, ajude uma banda, divulgue outra banda, indique a amigos, compre uma camiseta, um CD, invista, seja em imagem, seja em presença. Se você não faz nem um nem outro, não tem o direito de reclamar de nada. Eu juro para você, prefiro ver um bar com dez pessoas que realmente são bangers do que um bar lotado com pessoas que estão ali só pra fazer cena e dizer: "olha eu estou aqui, eu vivo em evento, sou radical", e não sabem merda nenhuma. A galera tem que se movimentar, tem que levantar a bunda da cadeira, tem que fazer as coisas. Esses falsos bangers que só sabem criticar, falar mal, não fazem nada realmente útil da vida deles, eles só apodrecem, e em algum momento, somem da cena. Gente assim não dura, eles cansam da brincadeira, porque sempre têm seus quinze minutos de fama, os que permanecem são somente os verdadeiros. E a ideia do Web-Bangers, pode ou não ser ruim, é preciso analisar muitas questões para poder criticar e saber o real motivo. Tem cidade por ai que não tem nada, nem um botequim, nem cover, nem mesmo autoral, se o cara não tem grana, o que ele vai fazer? Ficar em casa olhando pela net, às vezes comprar material, quando achar. Mas se você está num lugar que tem pouca ou muita movimentação e, além disso, tem como viajar e acrescentar, você tem que fazer isso mesmo.

HM Breakdown: Perfeito! Você administra o grupo Força e Honra Underground no Facebook, você percebe uma interação das pessoas, e também um interesse das bandas em divulgar seu material por lá?
Camila: Recebemos muito material, todos os dias, muitas bandas têm interesse em divulgar, e isso é muito bacana. A interação das pessoas é mediana, creio que por não ser uma página grande como muitas por ai, com vinte, cinquenta mil curtidas, mas sempre tem gente curtindo, galera que manda mensagem pedindo algum som.
Eu sempre colaborei, postando sempre que podia, assim como em outras páginas. Quando eu entrei no Força e Honra Underground, foi muito engraçado ver a quantidade de gente que pedia o som da minha banda, fiquei surpresa. Eu ficava imaginado se eles sabiam que eu era da banda e se eles realmente estavam curtindo? É o máximo isso.
Tem uma galera mais madura, participativa, gente que realmente sabe o que é o Underground, que curte aquelas bandas. Buscamos mentes mais maduras.


HM Breakdown: E sobre os seus trabalhos gráficos? Falei com o André Luiz esses dias e ele rasgou elogios a você. E mais, fora a capa de Sky and Moon do André Luiz, que outras artes levam a sua assinatura?
Camila: É um trabalho muito importante, pois é a imagem da banda que eu tenho que modelar, trabalhar e criar. Eu gosto bastante, embora algumas vezes seja muito cansativo, mas é muito gratificante poder fazer isso por outras bandas. Sim, recentemente fiz junto com o André Luiz o trabalho completo de encarte para seu novo CD, Sky and Moon, foi muito atrativo trabalhar com ele, pois ele gosta de elementos muito semelhantes aos que eu gosto, em questão de arte, e isso ajudou bastante no momento da criação e foi muito interessante conseguir um resultado simples, que passasse toda a mensagem de seu novo CD. Fora o Sky and Moon, já fiz artes para Catástrofe, Gore Autopsy, Necrohunter, Hate for Revenge, Carnage Hell, entre outros. Recentemente, também fiz um trabalho magnífico com a banda Godslayer, foram duas capas, eles estão usando apenas uma, mas ficou animal, algo bem viking, um campo de guerra com guerreiros representando a banda. E também fiz a atual capa do CD Collector of Souls, da minha banda, ficou genial. Também tive a oportunidade de criar a logo (assinatura) de muitas outras bandas, que para mim é ainda mais gratificante, pois muitas levam aquilo ali por toda a carreira da banda, isso me deixa muito feliz.

HM Breakdown: E quais são os aperfeiçoamentos que você busca para desenvolver este trabalho?
Camila: Assisto videoaulas, algumas matérias a respeito do assunto, muitos trabalhos de outras empresas, em questão de coloração, efeitos de luz. Mas o que eu mais faço é acompanhar canais que nos mostram como utilizar e criar certos efeitos. Sempre tento reproduzir na minha cabeça a arte pronta e transpor na tela do programa.
Sou formada em desenho técnico e artes plásticas, e isso me dá um certo conforto na hora de desenhar, pois já tenho conhecimento de formas e tamanhos, e sempre estou buscando ver aulas e videoaulas de desenhos relacionados a isso.
Mas tem um ponto complicado, não ter muito material voltado para o desenho mais obscuro, dark ou gore, resultando em um ponto escuro na hora da criação. Sempre tento melhorar.

HM Breakdown: Existem muitos sites e blogs com artes relacionadas às que você citou, porém não existe mesmo nenhum que te dê as dicas do trabalho. Você não acha que esta seria uma ferramenta amplamente divulgada, caso alguém resolvesse investir em algo assim?
Camila: Sim, seria interessante uma empresa de maior porte pegar vários artistas e desenhistas por aí espalhados e criar uma forma ou um local de poder centralizar isso e ampliar a divulgação. Também creio que eles não façam isso, pois as gráficas oferecem este tipo de trabalho, não especializado em um estilo musical, mas oferecem o trabalho.
Eu já pensei em criar um blog onde eu filmasse a criação das artes. Mas, ao mesmo tempo, eu me deparo com o fato de eu não ser a pessoa mais especializada na questão de artes gráficas, ainda sou um peixe pequeno diante dos grandiosos que tem por aí. Fico com receio de fazer e quebrar a cara, procuro evoluir para me tornar uma expert.
Mas o blog seria ótimo, podia haver pessoas fazendo vídeos, mostrando a estruturação de desenhos para o metal.

HMB: Sendo assim, você acredita que o Heavy Metal, por si só, é capaz de movimentar um mercado e gerar receita?
Camila: Sim, eu acredito. Creio que tudo deve ser totalmente remodelado, e quando digo remodelado, quero dizer a forma como é vendido, divulgado, deve haver uma maneira eficiente de divulgar esses trabalhos para chegar ao público que irá compra-lo.

HMB: Sua banda, a Sweet Storm, tem uma pegada bem oitentista, mas com uma cara moderna, sempre foi essa a intenção?
Camila: A intenção sempre foi fazer algo com a nossa cara, afastar-se de tudo que nos influencia, pois não queremos que nossa música seja um “Frankenstein”, com pedaços de várias outras bandas. Mas no momento que você se propõe a compor dentro de um determinado estilo, você deve respeitar as raízes deste estilo e utilizar características dele. Hoje, se eu pudesse não escolher estilo nenhum e simplesmente poder fazer a música do jeito que quero, faria isso. E acho o máximo poder soar como algo moderno e oitentista ao mesmo tempo, gosto da liberdade que temos para criar, seja uma música mais pesada, mais simples ou extravagante.


HMB: Porque a banda é um trio?
Camila: Já fomos quatro, no início tínhamos dois guitarristas, mas por questão de tempo, um deles saiu da banda. A ideia é ter no máximo quatro integrantes na banda, caso o baterista entre para a banda, não gostamos de tumulto em termos de produção, o número três tem muitas influencias em cima da gente, por incrível que pareça. Um amigo me falou recentemente que somos um mega power trio, como os pilares que dão sustentação, somos três cabeças pensantes fortes dentro da banda. O porquê mesmo, nem eu sei , mas por incrível que pareça, sinto que tem que ser assim.

HMB: Como está sendo a parceria com a Black Legion Productions?
Camila: Bem, eu já acompanhava há um tempo o trabalho deles, e graças a um parceiro de divulgação, pudemos ter mais contato com este tipo de serviço. Estamos há pouco tempo com a produtora, mas o Alex, que é o responsável, é um cara muito atencioso, que conversa com a gente não apenas sobre o trabalho, mas como um amigo, e isso é muito bom, ele tem algo que eu gosto, ele não tem medo de falar se está ou não ruim, a sinceridade dele é uma virtude que prezo muito, pois mesmo que seja um lazer, também é um trabalho, e isso mostra a seriedade dele. Até o momento está indo bem, mas estamos com grandes expectativas para os próximos meses

HMB: Planos para o futuro?
Camila: Atualmente, estamos colocando muitas coisas em ordem, e recentemente tivemos uma reunião, queremos mudar de Uberaba, não apenas por conta de banda, mas também por questões de emprego e oportunidades, também pretendemos completar o time da banda, pois por mais que a gente toque com bateria programada, não é o certo, a gente precisa de mais alguém, pois sinto que é o que falta para o nosso trabalho deslanchar. Atualmente, também estamos encerrando o Collector of Souls, que vai ser lançado agora em setembro, caso não tenha mais nenhum problema. Queremos que fique com a aparência Underground e bem independente, tanto que estamos fazendo tudo, desde a gravação até a colação dos encartes. Mas não vai deixar de ser um CD bem produzido. E para 2015, já vamos estar embarcando em uma mega produção do nosso segundo CD, Through the Submission, que já estamos fechando com a Black Legion Produções, e também já separando estúdio e produtores. Vamos fazer um book com as setenta e sete fotos e filmes do nosso querido amigo Fábio Fernandes. Quem precisar de um trabalho fotográfico profissional, só falar com esse cara. O restante, creio que vá fluindo.

HMB: Resuma Camila Porto em uma frase ou palavra.
Camila: Uma frase ou uma palavra que me resuma (risos)? Eu diria que sou uma percepção.

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.

Camila: Eu agradeço pela oportunidade de falar sobre mim e meus projetos, espero que a HMB continue com este trabalho magnífico e que cada vez mais pessoas possam ser acrescentadas em todo esse trabalho que vocês e todas as pessoas vem fazendo pela música, não apenas no Brasil, mas no mundo todo.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Tanatos, é inadmissível que uma banda precise pagar para ter espaço...


É muito comum olharmos de fora do cenário Black Metal e termos uma visão completamente errada do que realmente é o estilo. Conversamos com Tanatos, vocalista e guitarrista da banda Creptum, que nos atendeu prontamente e se mostrou um cara ligado com o cenário como um todo e também deixou em claro, o que o Black Metal e sua banda, Creptum, significam para ele. Confiram

Heavy Metal Breakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, fale-nos sobre você e suas atividades.
Tanatos: Primeiramente, eu que agradeço pelo espaço e apoio. Sou vocalista, guitarrista e um dos fundadores da banda Creptum.
A ideia de criar o Creptum surgiu em 2001 junto com Animus Atra (atualmente baterista) com a amizade e afinidades na música e de ideologias que temos desde adolescente. Nessa época, escutávamos muito bandas como Slayer, Marduk, Dark Funeral, Immortal e isso fez com que crescesse uma vontade de, à nossa maneira, poder tocar e dizer coisas como eles.
Sempre estudei e trabalhei com design, isso ajudou bastante a criar uma identidade para o Creptum, não só musical, mas também estética.
Depois de gravar a demo "...make this world burn" em 2003 e com o aumento gradativo da quantidade de shows, decidi, por motivos pessoais, me afastar da banda. Assim, não só me afastei da banda, como também da cena. Deixando o Creptum nas mãos do Animus. Depois de quase nove anos sem contato direto, nos encontramos casualmente e vimos que a amizade e a ideia do Creptum, poderiam voltar com uma força ainda maior, visto nossa experiência de vida adquirida nesses anos.
Nesta nova reunião, preparada com paciência e cuidado, procuramos adotar uma nova postura (inclusive visual) para a banda, não é mais um projeto de adolescente. Estamos mais velhos e o negócio não é ser 'rockstar'. Queremos espalhar o metal negro ríspido e cru, porém com profissionalismo e maturidade. Ainda abordamos temas como ocultismo e, principalmente o desprezo aos dogmas religiosos, sabendo que isso é um assunto muito mais profundo do que simplesmente pintar a cara e dizer que vai matar todo cristão no mundo.


HMB: O que você acha de bandas que banalizam o ocultismo e a ciência negra e partem para a agressão propriamente dita? Não seria por casos como este que o público em geral tem uma visão um tanto distorcida do que o Black Metal se tornou?
Tanatos: Não acho que seja apenas uma banalização. Vejo mais como uma dificuldade de interpretar as coisas. Se você pegar uma religião de dogmas como o cristianismo, "virar de ponta cabeça" e começar a cagar regras e verdades absolutas, você faz exatamente as mesmas coisas, não há diferença. Talvez seja por isso que, uma grande parte das pessoas com a mente mais fechada tendem em abandonar o estilo e se juntar à religião. Há uma necessidade de seguir regras, e fica difícil se desvincular. Acredito que uma emancipação do ser humano seja a ideia mais próxima de um Black Metal puro.

HMB: Não é desestimulador para você, ver essa fraqueza nos seres humanos e saber que você leva a ideologia apenas aos já "convertidos"?
Tanatos: Sinceramente não. Posso tocar pra dez pessoas, isso pra mim está de bom tamanho. Se a pessoa teve algum interesse no Creptum, seja pelo som, letra ou até pela capa do disco, sei que esta pessoa tem alguma coisa em comum com nossa ideologia e isso já me deixa satisfeito.


HMB: E na sua visão, como é o cenário Black Metal, como um todo hoje?
Tanatos: Atualmente vejo com bons olhos. Apesar do que falamos anteriormente, sobre uma interpretação equivocada do estilo por algumas pessoas, o cenário nacional é muito rico.
Tendo em vista o acesso mais fácil às grandes nomes internacionais, que agora veem com mais frequência ao Brasil, o cenário nacional precisou sair um pouco do amadorismo e criar uma maturidade.
Grande parte das bandas aqui que não devem nada para as de fora. A qualidade é notada desde as gravações de alto nível e até na parte gráfica dos álbuns e demos , e sou extremamente chato com isso (risos).

HMB: E como tem sido o comparecimento do publico aos shows?
Tanatos: Vou responder pelos eventos que tenho ido, pois o Creptum voltará aos palcos somente em novembro.
Apesar da grande qualidade da maioria das bandas nacionais, não vejo uma presença efetiva do público. É claro, em alguns shows internacionais isso muda de figura, mas aí é que está à dificuldade das bandas brasileiras, a galera fala muito de apoio à cena underground, mas poucos o fazem de verdade. Gastam-se um bom dinheiro em ingressos onde no cast colocam apenas uma ou dias bandas locais e, em eventos undergrounds onde o ingresso é 10/20 reais a galera não comparece com a mesma frequência.
Como espectador, é claro que gosto de ver as bandas que nunca pensei em ver ao vivo, os que poderiam equilibrar são os produtores, dar mais espaços pra bandas novas aparecerem em vez de inflar um festival com 5 bandas gringas e uma única brasileira. Um grande exemplo positivo é o Zoombie Ritual, um festival de grandes proporções com 15 atrações internacionais, porém são quase 30 bandas nacionais. Mais eventos como este poderiam rolar por todo o país.

HMB: Será que a condições tributárias do nosso país, impede uma maior realização desse tipo de evento?
Tanatos: Nossa questão tributária é bem complicada mesmo, mas não pode ser usada como desculpa sempre.
Existe, é claro, uma dificuldade financeira em produzir um evento de qualidade, mas o interesse em fazer um festival com determinadas bandas internacionais e não equilibrar o cast com bandas daqui é escolha da organização do evento.
A questão é aproveitar a oportunidade onde é esperada a presença do público em maior número, como shows internacionais, para poder dar uma força às bandas locais.
Já cheguei a ouvir casos que há produtores cobrando para colocar bandas nacionais para abrir shows gringos. É inadmissível que uma banda precise pagar para ter espaço junto a bandas internacionais no Brasil!


HMB: Concordo com você! Como você usa a internet como ferramenta para a divulgação do seu trabalho?
Tanatos: É impossível não usar as ferramentas web. Principalmente para bandas independentes como nós.
Atualmente fazemos uso dos principais canais como: facebook, youtube, bandcamp, reverbnation, lastfm, bandsintown (que, aliás, é uma das ferramentas que considero mais interessantes para bandas atualmente), instagram e outras mais...
Até muito pouco tempo atrás, coisa de dez anos, ainda era bem difícil conseguir material de bandas independentes. De lá pra cá, essas ferramentas só fizeram ajudar na divulgação.
Recentemente li uma entrevista com o vocalista do Emperor, Ihsahn, falando que com a internet perdeu-se o mistério por trás das bandas de Black Metal, concordo que hoje o acesso aos "ídolos" ficou mais fácil, mas isso é positivo. É fácil dizer isto quando as tais bandas obscuras sempre tocaram na sua cidade. Quando adolescente comprava revistas gringas mais antigas nos sebos próximos à galeria do rock pra conhecer essas bandas. A internet trouxe isso mais próximo de nós, e como banda independente, levou o Creptum para onde eu nunca pensei que fosse chegar.

HMB: E com a facilidade de acesso, não teria o público, banalizado o acesso às informações e se acomodado, já que basta querer e estão lá, fotos, releases, CDs completos?
Tanatos: Não vejo dessa maneira. Talvez porque sempre fui daqueles que não importa se tivesse acesso à tudo de uma banda, vê-la ao vivo sempre me agradou muito mais. E não só as grandes bandas de fora.
Tenho muita amizade com o pessoal do Amazarak e o Paolo do Desdominus, por exemplo, e mesmo tendo acesso direto a eles, vê-los tocando ao vivo é sempre gratificante.
Facilitar o acesso ao que oferecemos, é um dever nosso. Não é porque em outros tempos era mais complicado e "suado" para conseguir as coisas que vou querer que uma pessoa interessada no Creptum, passe por isso. Fazemos música para ser ouvida, não importa se é em CD original, mp3 via torrent, youtube ou ao vivo.


HMB: O Creptum lançou duas demos em 2003 e 2004 e só voltou a lançar material agora em 2014, por que a demora?
Tanatos: Eu deixei o Creptum em 2004 mesmo, pouco antes da gravação da 2ª demo. A banda continuou com outra formação até meados de 2005. Após isso, o pessoal foi deixando de ensaiar até pararem de vez. Animus já estava no Carpatus e Nefus estava envolvido em outros projetos. Aí apenas em 2012, se não me engano, foi que reencontrei os dois ocasionalmente. Ali percebemos que o Creptum poderia voltar, e com a formação mais próxima da original.

HMB: E você percebeu uma evolução na cena, de 2005 para cá, ou quando voltou, sentiu que tudo ainda era igual?
Tanatos: Bom, posso dizer qu houve sim uma evolução. Principalmente quanto à quantidade e qualidade dos shows. Mas houve uma ligeira diminuição do público. Fui inúmeras vezes à Fofinho aqui em São Paulo com casa cheia, a galera dando apoio de verdade. Recentemente, em um evento lá, com bandas de altíssima qualidade e que raramente tocam em SP, porém o público deixou muito a desejar, a casa estava bem vazia.


HMB: Planos para o futuro?
Tanatos: Atualmente estou focado na volta aos palcos, que vai ocorrer em novembro com o Creptum. Já fechamos mais algumas datas e em paralelo trabalhamos em um material totalmente inédito para ser lançado no primeiro semestre de 2015.

HMB: Resuma Tanatos em uma frase ou palavra.
Tanatos: Verdadeiro. Não estou aqui de brincadeira.

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Tanatos: Gostaria de agradecer a oportunidade e o apoio que tem dado não só a mim e ao Creptum, mas à cena underground como um todo. Essas atitudes que deveriam ser mais vezes repetidas.
Peço aos leitores do HM Breakdown que participem, apoiem efetivamente a cena. Vá aos shows do seu bairro, conheça as bandas à sua volta e valorize-as.

Vida longa ao metal underground!

sábado, 11 de outubro de 2014

Rafael Noctivago, Se tocarmos para uma pessoa ou um milhão não fará diferença


No mundo do Heavy Metal, podemos dizer que 90% das aspirações e dedicações são por puro amor! Em tempos de vida feita de internet e redes sociais, muitos deixam bem claro sua paixão e dedicação pela música pesada, outros fazem disso um estilo de vida que corre em paralelo e igualdade com a, podemos assim dizer, “vida normal!” Com Rafael Noctivago, vocalista da banda Outlanders, não é diferente, leva a fundo sua paixão pelo Heavy Metal, paralela à sua paixão acadêmica, e com isso se desdobra no dia a dia, mostrando dedicação e seriedade em um bate papo muito interessante. Confiram!

Heavy Metal Breakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, fale-nos sobre você e suas atividades.
 Rafael Noctivago: Opa, primeiramente obrigado a você, do Heavy Metal Breakdown, por me entrevistar. Bem, as minhas atividades são muito diversas. Sou formado em Medicina desde 2010 e terminei minha especialização em Infectologia em janeiro de 2014. Trabalho em quatro hospitais como chefe das equipes e possuo meu consultório particular, onde atendo uma vez por semana. Alguns finais de semana eu atendo e outros não. Com relação à música, tenho pouco tempo para me dedicar durante a semana, sendo que apenas aos finais de semana ou às vezes dentro do carro indo de um emprego para outro, eu me dedico ao aquecimento vocal e treino técnicas de canto. Fiz aula de canto por quatro anos com o professor Vinicius Pereira, vocalista da banda Vinnie Pereira. Fora os empregos e a música, eu treino musculação três vezes por semana e sempre que posso me tranco no vídeo game, minha paixão desde a infância.

HMB: Duas paixões extremas! Como você concilia o seu tempo trabalhando em vários empregos e com o Outlanders?
Rafael: Conciliar o tempo nunca foi fácil. Os primórdios da banda ocorreram enquanto eu ainda estava na faculdade e precisava estudar muito. Eu possuo déficit de atenção, que só foi diagnosticado no final do curso de Medicina. Durante o tempo sem diagnóstico, eu precisava estudar de seis a oito vezes a mesma coisa pra entender.
Durante o curso de medicina estudei muito, não apenas para me formar, mas também para entrar na residência médica (nossa especialização), que consiste em um vestibular apenas com questões de medicina em geral e uma prova prática no final. Fiz residência no Hospital do Servidor Publico Estadual e diversas vezes ficávamos de plantão de até trinta e seis horas seguidas. Já perdi a conta de quantas vezes fui direto do plantão para shows ou de shows para plantão. Exausto, mas sempre feliz de estar fazendo o que amo.
Hoje em dia eu não dou mais plantões tão longos, mas mesmo assim entro às sete horas da manhã aos finais de semana, e assim como antes, ainda vou direto do trampo pro show ou do show pro trampo (risos).
No meu ponto de vista, só fica cansado e de saco cheio (tanto do emprego quanto da banda) quem não ama o que faz. Quando você trabalha ou toca com algo que ama de verdade, deixa de ser obrigação e vira seu cotidiano. Você acaba se dando bem com as pessoas em ambos os ambientes e tudo fica tranquilo.


HMB: Mas mesmo assim a conciliação de horários é difícil, tenho esse problema também, na verdade eu gostaria de um dia com pelo menos 40 horas. Mas voltando, você vem de uma família de médicos ou optou pela medicina mesmo sem ter exemplos dentro de casa?
Rafael: Um dia de 40 horas seria sensacional (risos). O único médico em minha família é a esposa de um primo de minha mãe, com quem nunca tive muito contato. Não optei pela medicina por nenhum exemplo. Meu pai é engenheiro e minha mãe dentista. Inicialmente eu queria fazer biologia, no entanto como todos sabemos, no Brasil essa é uma profissão muito desvalorizada (assim como muitas). Acabei optando por medicina exatamente pela cadeira de Microbiologia (estudo de bactérias, fungos, vírus e parasitas). E é o que faço hoje, trabalho com todo tipo de doenças infecciosas, principalmente H1N1, tuberculose, HIV e hepatites. Porém, em minha especialidade, também lidamos com picadas de animais peçonhentos, mordeduras de animais e outros acidentes envolvendo a vida selvagem. No final acabei ficando em contato com a biologia e descobrindo que amo cuidar do ser humano.
HMB:  E porque você resolveu ser vocalista de Heavy Metal?
Rafael: (Risos) Então, eu tentei tocar guitarra, baixo e bateria. Meu sonho inicialmente era ser guitarrista. Um dia me peguei pensando e decidi aprender a cantar, além de tirar os sons que gostava, queria um controle melhor da voz. Aos poucos fui me apaixonando pelo canto e decidi criar a minha banda. Acho que 99% dos headbangers possuem esse sonho de ter a própria banda, então investi pesado nesse sonho. Inicialmente eu gostava de cantar com voz limpa e bem trabalhada, mas depois fui me descobrindo nos vocais com drive e guturais  e acabei ficando nessa praia mesmo. Hoje não me vejo sem a banda.

HMB: E como é a dinâmica da banda nas composições e shows, já que nem sempre você está disponível?
Rafael: A dinâmica da banda não muda muito. Eu sempre adequo meus horários e me desdobro para conseguir manter todos os compromissos em dia. Geralmente fazemos de dois a três shows por mês e ensaiamos todos os finais de semana, aproximadamente duas horas por ensaio. As composições ficam nas mãos do nosso guitarrista Diego, o cara manja muito e eu não manjo nada (risos). No momento estamos terminando as composições para nosso novo CD, que tem previsão de sair na metade de 2015.

HMB: Pode nos falar alguma coisa sobre este futuro lançamento? Você tem uma demo de 2012 que se chama Kretaceous, quais são as diferenças entre esses dois lançamentos?
Rafael: Nosso novo álbum promete ser muito mais pesado. Alteramos algumas coisas nos timbres da guitarra e do baixo. Voltamos a ficar com apenas um guitarrista e os vocais estão na linha de Max Cavalera e Mile Petrozza. Em nosso website (www.outlandersband.com.br) possuímos um teaser, dando aquela amostra grátis para quem estiver curioso sobre a temática do álbum e os títulos das músicas que terão nele.


HMB: E falando nisso, como é a sua relação com a internet e com as redes sociais? Você acha que está é uma boa ferramenta para a divulgação e consequente propagação da sua música?
Rafael: Eu acredito que a internet é apenas mais uma forma de divulgação de nossa música. Redes sociais acumulam quase 75% dos usuários de internet e isso não pode ser deixado de lado. No entanto, vale a pena lembrar que "likes" não significam necessariamente sucesso. A divulgação deve ocorrer de todas as formas possíveis, enviando material para rádios, produtoras, rock bares e até mesmo para outras bandas. Uma forma que nós usamos para divulgar nossa banda na Internet é através da gravação de vídeos, em shows ou em estúdio, de músicas novas ou antigas da banda, e algumas vezes covers também. Isso mostra ao público como a banda realmente é, como nos comportamos e qual o nosso som original (sem efeitos).

HMB: E como tem sido a resposta do público ao Outlanders?
Rafael: Essa é uma pergunta interessante. Inicialmente, o público apreciava muito a banda e ela era bem conhecida. Após alguns problemas, principalmente meus, com integrantes de outras bandas mais "famosas" do underground, e digo famosas entre aspas, pois não as considero famosas, apenas influentes, se é que me entende. Após esses problemas, diversas casas começaram a nos boicotar e a influenciar o público a não comparecer nos shows ou, caso comparecessem, não poderiam agitar, etc. No entanto, apesar de todos esses "problemas", atualmente o público gosta muito de nossas músicas e temos levado uma boa galera para as casas de show. Estive duas vezes na Alemanha, no festival Wacken Open Air (em 2013 e 2014) e em ambas as edições consegui vender todos os cinquenta CDs que levei para o festival, sempre com um ótimo retorno do público. Quando tocamos, o público pede autógrafos em CD e até decidem tirar fotos, isso é algo fantástico. Então, em resumo, posso dizer que atualmente a Outlanders conquistou seu lugar ao sol.

HMB: E como você vê o cenário da música pesada no Brasil? Ainda mais depois de sofrer esse "boicote"?
Rafael: Eu vejo o cenário brasileiro como um local muito promissor. Apesar das casas focarem muito em bandas famosas ou cover (afinal elas precisam ganhar dinheiro, não as culpo, manter um bar não deve ser nada fácil). No entanto fico muito decepcionado ao ver como o público é manipulado, digo isso em relação à cidade de São Paulo, pois é onde vivo. Recentemente, uma das bandas mais famosas do metal brasileiro (não direi nomes) fez um show e no mesmo dia outras bandas, de pessoas "influentes", fizeram outro show. A banda conhecida teve um público muito baixo e as bandas "influentes" tiveram mais de três vezes o número de pagantes. Acho que o público passou a ser de "amigos" das bandas ao invés de pessoas que apreciam de verdade as composições. Quando eu tinha 17 anos de idade, lembro-me bem dos shows na Led Slay, bandas próprias tinham espaço, hoje em dia você tem que ficar insistindo para chamar público, convidando pessoalmente as pessoas, e no final, somente familiares e amigos acabam indo ao seu show. Nossa banda deixou de convidar as pessoas para shows há aproximadamente oito meses. Consideramos que devemos ser apreciados por nosso trabalho e não pelos "contatos" que temos ou por sermos populares e termos muitos "amigos". Quem quiser assistir nosso show está sempre convidado e quem não quiser, está convidado também (risos). Se tocarmos para uma pessoa ou um milhão não fará diferença, faremos nosso som com paixão e dedicação.


HMB: E você acha que com um trabalho focado e determinado é possível mudar essa realidade e trazer mais público aos shows autorais?
Rafael: Com toda certeza. Assim como para todos os problemas, o trabalho duro é essencial para chegarmos à solução. Devemos observar quais são os pontos negativos e quais os principais pilares que levam ao nosso problema. Quando pudermos identificar o que afasta o público dos shows, será simples resolvermos.

HMB: Quais são os temas preferidos nas letras da Outlanders?
Rafael: No primeiro CD a temática foi bem diversa e divertida também, falamos de piratas e dinossauros (risos), além de vickings e anjos caídos. No segundo CD a coisa ficará mais séria, abordaremos temas como fanatismo religioso, problemas políticos e a culpa da sociedade em seus próprios problemas.

HMB: E você acha que a sociedade brasileira está pronta para enxergar seus próprios erros?
Rafael: Cara, aí você tocou num ponto delicado. Na minha opinião, a sociedade não está nem perto de ser capaz de enxergar os próprios erros. Digo isso com o olhar de quem já foi e ficou em vários países. Minha família descende de europeus, italianos e portugueses por parte de mãe e espanhóis por parte de pai. Tenho família na Espanha e frequentemente os visito. Digo a você que a nossa sociedade ainda tem muito a aprender. Necessitamos aprender sobre o respeito mútuo, independente de quem a pessoa é ou do que ela tem ou faz. A individualidade e as particularidades de cada pessoa não são respeitadas no Brasil. E eu já passei por isso. Por não viver necessariamente na periferia e por ter faculdade e etc, já fui diversas vezes taxado de "playboy" e arrogante. Quem me conhece sabe como sou e não vou me alongar, pois esse não é o intuito da pergunta. Resumindo, a nossa sociedade precisa rever seus valores, rever o que realmente quer para o futuro e acima de tudo aprender a respeitar e compreender o próximo.

HMB: Persistindo no assunto. Você acredita que a falta de valores morais ou de desrespeito com o próximo sejam um reflexo da educação de péssima qualidade a que somos submetidos?
Rafael: Não tenha dúvida, meu caro. A educação é a base de uma sociedade. Sem ela voltamos a ser primatas e acabaremos nos matando por comida e fêmeas. Espera um pouco, já estamos fazendo isso né? No dia em que os seguidores de todas as religiões aprenderem a respeitar e compreender a outra religião, os sem religião aprenderem a compreender e respeitar os religiosos e aqueles que se julgam "anti deuses" (porque se existe um anti cristo, deve existir um anti buda e etc, certo?) (risos) aprenderem a respeitar que acredita em deuses, aí estaremos prontos para começar nossa sociedade. Fora o fato do headbanger não respeitar funkeiro, sertanejo, sambista e os mesmos também não respeitarem o headbanger. Ninguém é igual, e só com educação aprenderemos a conviver em paz e um dia quem sabe seremos um país de primeiro mundo.
Tenho certeza que algum ufanista vai começar a reclamar dessa parte, mesmo sem um argumento com embasamento.

HMB: E você não acredita que exista vida inteligente fora do nosso planeta?
Rafael: Com certeza. Acho até que é um pouco de prepotência e ignorância acreditar que não haja vida fora de nosso planeta. Já temos diversas provas científicas de que a vida pode se desenvolver em condições extremas (organismos chamados extremófilos). Inclusive, se não me engano, no último mês saiu um artigo sobre a presença de microrganismos na superfície externa da Estação Espacial Internacional.


HMB: Você acha que o cenário da música pesada no Brasil poderia ser mais unido?
Rafael: Com certeza. Lembre-se que união não é puxar saco de outras bandas e nem apoiar a banda apenas porque é de seu amigo. União é quando você fala quais os prós e contras da banda. É quando os shows não são manipulados e as bandas não ficam de intriguinha entre elas, muitas vezes por inveja.

HMB: Planos para o futuro?
Rafael: Penso em expandir meus horizontes como médico e como músico. Como médico, as coisas estão indo muito bem e agora tenho equipes sob minha supervisão em dois hospitais particulares. Pretendo em breve conseguir mais hospitais para prestar serviços em minha área. Com relação à banda, pretendemos fazer uma tour pelo país assim que sair nosso Full Lenght, e em breve para fora do país se tudo der certo. A longo prazo, pretendo me mudar do país e viver na Europa, com minha família, e possivelmente ter filhos e criá-los por lá.

HMB: Resuma Rafael Noctivago em uma frase ou palavra.
Rafael: Perseverança.

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.

Rafael: Quero agradecer a chance de falar aqui com você e com todos os seus leitores, seria muito bom se tivesse outra oportunidade. Um recado que eu deixaria: “tudo que desejar pode se tornar realidade se tiver perseverança e força de vontade”. É como diz o velho ditado, “a força de um guerreiro não é medida por sua capacidade de derrotar e sim por sua capacidade de resistir”. Um abraço a todos e "Save Your Beer...The Outlanders Are Here".