terça-feira, 15 de abril de 2014

Carlos Parra, conscientização e sabedoria


Desta vez conversamos com o vocalista da banda Cambones, Carlos Parra, que disse tudo que pensa. Munido de opiniões fortes e de muito carisma, Carlão trouxe a luz muitas questões e opiniões.. Confiram!!!!

HM Breakdown: Fale sobre você, suas atividades e em como você se tornou vocalista.
Carlos Parra: Em primeiro lugar gostaria de agradecer a oportunidade de poder me expressar para alguém que de fato valha a pena fazê-lo.
Bem, me considero um cara chato pra caralho, difícil de conviver e repleto de indignações e indagações. Hoje já "quarentão", envolvido com bandas e com o underground desde moleque, posso avaliar melhor como a sociedade é estúpida.
A grande maioria das pessoas se ilude com muito pouco e se agarram a valores discutíveis, até mesmo no dito underground não é diferente, e consigo enxergar canalhas e aproveitadores aos montes...
Sobre o fato de ser vocalista, é aquilo: muitas ideias na cabeça, muita coisa pra se dizer e nenhum talento musical. Foi o que sobrou pra mim e olha lá.
Só tenho uma preocupação quando o assunto é música, o temor de meu trabalho atingir as pessoas erradas. Penso que a grande missão é transmitir minhas ideias, e se por acaso esse trabalho agradar um número expressivo de alienados que não se preocupam com o que as letras falam, com a mensagem, é hora de parar.
A luta é tentar fazer as pessoas pensarem, talvez por isso, eu seja curto e grosso em minhas letras. Tudo fácil de entender, só continua alienado quem quer. E não tenho a pretensão de agradar, não peço que concordem com o que digo ou penso, só quero que reflitam a respeito, questionem e saiam da zona de conforto.

HMB: Então você acredita que através da música é possível mostrar tanto o lado bom, quanto o lado ruim das coisas?
Carlos: Eu penso que qualquer manifestação artística tem a missão de fazer com que as pessoas questionem suas vidas e o mundo que as cercam.
Com a música não é diferente, muito embora compreenda que a maioria a consuma apenas como diversão e como uma maneira de esquecer tudo a sua volta.  É paradoxal, talvez por isso, seja tão complexo para muitos entenderem.

HMB: Como você encara a manipulação dos jovens pela media?
Carlos: Bem, em meu trabalho como educador e historiador, posso perceber que muitos jovens, infelizmente, não pensam com o próprio cérebro. É fácil constatar e afirmar que a lavagem cerebral é constante e contínua. Lembro que certa vez questionei uma jovem do motivo pelo qual ela estava se comportando de maneira tão diferente daquela que costumava, e ela simplesmente me respondeu: "ah todos são assim, precisei dar um jeito."
A mídia tem o poder de tratar tudo que é diferente como ruim ou desajustado e como ela trabalha para o Sistema, nada melhor do que deixar suas "ovelhas" iguais e seguindo um caminho de fácil pastoreio.
Cabe a nós, abrir os olhos de tantos quanto pudermos.

HMB: Mudanças políticas são fundamentais para o crescimento, ou cabe às pessoas tomarem conhecimento do que está errado, na sua visão, qual é o papel da cultura do crescimento pessoal de cada um?
Carlos: A cultura tem funções sociais que são mais importantes para o desenvolvimento de uma comunidade do que o conteúdo propriamente dito dessa cultura.


HMB: Sim, entendo, mas se você recebe um produto de péssima qualidade, qual vai ser o seu entendimento disso? Um entendimento péssimo, acredito...
Carlos: Penso que há uma relatividade muito grande nesse sentido. Eu e você, por exemplo, temos um entendimento muito diferente sobre qualidade do que muitos outros. O que quero dizer, é que penso ser mais importante existir uma real ligação entre a cultural produzida e a comunidade em questão. Algo que realmente faça sentido para os indivíduos envolvidos sem uma pressão imperialista e midiática.

HMB: Qual é o objetivo principal da sua banda Cambones, diversão ou conscientização?
Carlos: Posso afirmar com bastante tranquilidade que o Cambones existe para ser um agente de conscientização e como válvula de escape politico social. É claro que no final das contas uma coisa leva a outra e há muita diversão em torno do nosso som e da banda propriamente dita. O interessante é quando os jovens se divertem motivados pelo punk rock e o hardcore e depois questionem as letras e a mensagem de cada uma.

HMB: A cena hardcore é famosa por levar a cabo  o D.I.Y (Do It Youself), você concorda com esse tipo de visão? Não seria limitar demais a exposição de uma banda, que nos dias de hoje, vive exclusivamente da venda de seu material promocional?
Carlos: No Cambones ninguém está preocupado com o tamanho da exposição atingida. O que buscamos sempre é a liberdade de se expressar e de produzir. Tudo é feito muito naturalmente e sem nenhum tipo de expectativa. Se por um lado curtimos muito tocar e de  preferirmos locais periféricos onde quase ninguém quer ir, por outro não esquentamos muito a cabeça quando precisamos dar férias para a banda. Tudo natural e no tempo de cada um. Ainda sobre o tema exposição, penso sermos a antítese de quase tudo que está por aí.

HMB: Porque adotar uma posição política definida e já houve consequências pro este posicionamento??
Carlos: Bem, a banda é uma extensão do que somos em nossas vidas. Somos uma banda obviamente de esquerda ou até mesmo de extrema esquerda. Vale ressaltar que muita gente sequer tem ideia do que significa as definições esquerda e direita. Pois, se você consegue se indignar com tamanha desigualdade social, com o preconceito, o machismo, o sexismo e é a favor dos direitos trabalhistas e contra a exploração, então você é de esquerda. Temos muita liberdade na banda, a formação conta com anarquistas e comunistas. Aliás a nova peita do Cambones traz o logomarca anarco-comunista. Em relação as consequências, penso que por hora só colhemos as positivas. Abrimos portas interessantes através de nosso sincero e natural posicionamento politico. É bom ressaltar que a cena está repleta de bandas com integrantes reacionários, mesmo entre bandas de hardcore, que nasceu do punk, é fácil encontrarmos o paradoxal posicionamento direitista. Só para constar, a direita é de quem detém o poder. Se você é pobre de direita, com certeza sofre de síndrome de Estocolmo.


HMB: Planos para o futuro?
Carlos: Nossos planos são terminar a mixagem e a masterização de nosso disco, lança-lo de uma forma ou de outra e fazermos muitos shows para divulga-lo.

HMB: Resuma Carlos Parra em uma frase.
Carlos: Para me resumir usarei dois verbos: Acreditar e Lutar!!!

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem aos nossos leitores.
Carlos: Agradeço a oportunidade e aproveito para dizer para os leitores que mesmo que muitas vezes nos sintamos uma pequena gota em um imenso oceano, não se deixe influenciar só para agradar algo ou alguém. Sermos nós mesmos, por pior que possa parecer, é e sempre será o melhor a fazer.
"Lutemos por um mundo sem nenhum tipo de fronteiras e bandeiras só se forem as pretas ou vermelhas. Afinal tanto o preconceito quanto o patriotismo, são os refúgios dos imbecis."

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