quarta-feira, 16 de abril de 2014

Roger Lombardi: "No fim, o importante é sermos felizes"


Roger Lombardi, jornalista, bem humorado e o frontman de uma das mais promissoras e despojadas bandas que este país já pariu, o Goatlove. Confiram a seguir!

HM Breakdown: Antes de tudo, obrigado pelo seu tempo e pro nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e suas atividades.
Roger Lombardi: Eu que agradeço o espaço! Bem, sou jornalista e trabalho há 14 anos na profissão. Também sou vocalista do Goatlove, mas isso eu costumo esconder das pessoas (risos). Meu interesse por música e artes em geral começou cedo, por volta dos 12 anos, e desde então tem ocupado um bom tempo da minha vida, principalmente música e literatura.

HMB: Qual é a sua opinião sobre a cena musical brasileira em geral?
Roger: Podia ser bem melhor (como no resto do mundo também), mas, ao mesmo tempo, acho que nunca tivemos tantas bandas bacanas como agora. Sei que parece um contrassenso, mas eu vejo assim. Temos um número excepcionalmente grande de bandas no cenário, o que contribui para que a quantidade de bons grupos. Ao mesmo tempo, há muita, muita coisa ruim. Claro que digo isso baseado exclusivamente em meu gosto pessoal e qualquer opinião nesse sentido é totalmente subjetiva.

HMB: E o que pensa sobre os shows por aqui?
Roger: Por incrível que pareça, hoje há menos espaços para shows em São Paulo do que nos anos 1990, por exemplo. E boa parte deles ficam na mesma rua. Há um pessoal que está fazendo festas e festivais e colocando a roda para girar. Ao mesmo tempo, é difícil conseguir agendar uma data. Nem todos enfrentam esse problema, e a maioria pode te confirmar isso. O público de São Paulo também não é dos mais empolgados com bandas novas. Em cidades do interior e em outros estados a galera permite se divertir mais. Há também toda uma questão sobre bandas autorais e bandas cover, mas me parece ser mais uma decisão do próprio público do que das casas de shows, portanto não há muito que reclamar nesse sentido.


HMB: Você acha que as bandas deveriam se unir mais e promover melhores shows, com melhores equipamentos, ou seja, tomar as rédeas da coisa, visando crescer a cena?
Roger: Acho que todos deveriam se unir: bandas, promotores, casas de shows. Mas o principal mesmo é o público ter interesse em ver os shows dessas bandas. Não adianta forçar uma situação. Se hoje as bandas autorais perdem espaço para bandas cover, é preciso analisar quais fatores levaram a isso. Casas de show querem público. Se as pessoas comparecem mais a shows cover é preciso analisar as razões disso e tentar mudar essa ideia, fazer com que o interesse seja equilibrado também para as bandas autorais. E isso tem que partir de nós que fazemos som próprio. Não acredito, entretanto, que exista uma solução simples. O que podemos fazer é tentar tornar nossos shows cada vez mais atrativos e é exatamente nessa parte que a união de bandas pode fazer a diferença. Talvez alguém não se anime a sair e assistir um show nosso. Talvez ela ache atrativa a ideia de um show nosso com mais duas bandas que ela goste. Entende?

HMB: Sim, perfeitamente! Você acredita que a música tenha formado a sua forma de ver a vida?
Roger: Com certeza ajudou. Como eu já disse anteriormente, meu interesse por artes em geral começou cedo e tudo que absorvi, me ajudou, de certa forma, a buscar informações que representam um pouco quem eu sou e minha visão de mundo.

HMB: E sendo assim qual é o seu pensamento sobre o ensino musical nas escolas?
Roger: A lei que garante o ensino nas escolas é recente, portanto é cedo para dizer se está sendo feita da forma correta. Entretanto, considero um avanço sensacional sua reinclusão na grade curricular. Na minha visão, as aulas de música servem para fomentar o interesse das crianças pelas artes, além de achar fundamental que sejam feitas de forma lúdica. Não consigo pensar em nenhum ponto negativo.

HMB: Como você se relaciona com a Internet, tanto no seu trabalho como na sua vida pessoal?
Roger: Bom, acho que se tornou inevitável usar a rede, principalmente na parte profissional. A internet possibilitou que tivéssemos acesso a todo tipo de informação e isso se tornou uma coisa boa e ruim ao mesmo tempo. Boa porque você não precisa mais ficar refém de um ou poucos veículos de informação. Ruim porque as pessoas estão cada vez mais preguiçosas em checar se o que chega até elas é, de fato, verdade ou não. De toda forma, vejo a rede com bons olhos. Se ela ajudou a decretar o fim de alguns formatos de mídia ou mesmo indústrias específicas, bem, não será a primeira vez que isso acontece. A internet está aí para que façamos bom proveito dela.

HMB: Com certeza a rede diminuiu a distancia entre as pessoas, Como você usa essa ferramenta para divulgar os trabalhos do Goatlove?
Roger: Nós divulgamos nossas notícias, damos entrevistas para mídias online, mostramos nossas músicas, fazemos promoções. Enfim, acho que todas as ações que faríamos de forma "tradicional" e que migramos para as mídias online. Praticamente tudo que fazemos como divulgação acaba sendo online. E, claro, isso é usado para atingir pessoas em localidades distantes com a mesma facilidade de alguém que mora na mesma rua.

HMB: Mesmo com o cenário do Heavy Metal no Brasil sendo enorme, muitas bandas sofrem de carência de público e de shows de qualidade, como você vê essa situação?
Roger: Bom, sobre essa pergunta, acho que é meio em cima do que falei anteriormente. A falta de público e shows se deve a diversos fatores. Há menos lugares hoje para se tocar, o público está preferindo assistir shows de bandas cover, há uma quantidade muito grande de bandas no cenário, etc. Tudo acaba sendo responsável direto para termos essa escassez de shows e, principalmente, de público.
Vejo muita gente reclamando do público - e, de fato, em São Paulo, é galera é meio blasé mesmo. Mas não é culpa só do público. As pessoas querem se divertir e vão atrás disso. Eu não tenho como pautar o que ela deve assistir para se divertir ou não, entende? Cada um vai ao show que quiser. Mas que há muita banda ruim e muita casa de show ruim, isso há também. Portanto, acho que é uma mescla de culpa de todas as partes. Como falei antes, é preciso analisar a situação e ver quais as maneiras que as bandas autorais podem conquistar mais espaço. Se mais bandas resolverem fazer mais shows em conjunto, mais espaço elas terão e o público achará o evento mais atrativo. Esse pode ser um dos caminhos, mas poucos fazem isso.

HMB: Você acha que o som feito aqui é diferente dos feitos pelo mundo, acha que o brasileiro tem uma característica própria na hora de fazer música?
Roger: Quando queremos, sim, temos uma característica própria. Qualquer país tem, na verdade. Música é algo que reflete não apenas a cultura a qual você está inserido, mas também a época, etc. Hoje, porém, sinto que muitas bandas, daqui e de fora, adotam um padrão praticamente idêntico não só de gravação - o que faz com que todos os discos pareçam gravados no mesmo estúdio, com os mesmos equipamentos e até os mesmos músicos - mas também na composição. Isso contribui para que essa percepção das características de cada músico e mesmo do país de cada banda esteja cada vez menos nítida.

HMB: A busca do som da sua banda! Talvez uma convivência com música de qualidade faça com que cada um busque uma sonoridade, o desenvolvimento de uma forma de fazer música?
Roger: Música de qualidade é um conceito subjetivo. O que você pode fazer na sua banda é um conjunto de tudo o que você ouviu e que lhe agrada, mas não há uma regra para quem monta uma banda. Nós fizemos o Goatlove para tocar músicas que gostamos. Há quem monte banda apenas para tentar recriar com exatidão outra banda ou estilo que gosta muito. Há quem monte banda para tentar fazer algo completamente diferente, seja porque ele sente falta desse tipo de música ou porque ela acha que isso se tornará um diferencial no mercado. No fim das contas, a única coisa que importa é que a música que você faça lhe agrade tanto (ou até mais) do que a música que você ouve.


HMB: Planos para o futuro?
Roger: Bem, na parte musical, estamos no meio das gravações do segundo álbum do Goatlove, "Guadalajara". Deve sair no segundo semestre desse ano ainda.

HMB: Resuma Rogério Lombardi em uma frase
Roger: Cara, eu não consigo (risos). Desculpe, mas essa não saberia responder. Posso deixar uma frase que acredito piamente: "No fim, o importante é sermos felizes".

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Roger: Obrigado ao HMB pelo espaço. Quem quiser conhecer mais sobre o Goatlove pode dar uma checada nos links:

Quem não quiser, bem, eu entendo (risos)

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