quarta-feira, 23 de julho de 2014

Marcelo “Korujão” Ladwig, ...sempre sendo verdadeiro, sem sacanear, sem passar por cima de ninguém.


Marcelo “Korujão” Ladwig, baterista, já passou por inúmeras bandas como Exon, RRRAICT TUFF!!! Hoje, na King Bird, Marcelo dá vazão a sua veia Classic Rock, mas mesmo com a agenda atribulada de shows do Pássaro Rei, encontra tempo para tocar outros estilos e prestigiar o cenário da música pesada nacional. Confira tudo que ele nos contou no bate papo a seguir.


Heavy Metal Breakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, fale-nos sobre você e suas atividades.
Marcelo “Korujão” Ladwig: Bom dia JP! Eu que agradeço pela oportunidade dessa conversa.
Bom, sou um trabalhador como qualquer cidadão comum.  Acordo cedo pra trabalhar e durmo tarde trabalhando. Sou músico e também mantenho outra profissão durante o dia. Mas o que interessa aqui é a música, então vamos lá.
Sou baterista desde 1987. Comecei tocando sem estudo formal, foi na raça mesmo. Aprendi muito tocando com caras mais velhos. Minha primeira banda foi o Exon, que chegou a lançar um CD e fazer muitos shows e durou até 1996. De lá até aqui foram inúmeros trabalhos, inclusive fora do metal, tocando pop, reggae, e outras coisas. Passei pelo RRRAICT TUFF!!!, como o sr. bem sabe (risos). Uma banda hardcore/punk que teve uma boa repercussão nos anos 90, tendo a vossa ilustre presença. De 2000 a 2010 toquei no M-19, que foi um dos pilares do movimento punk no Brasil. Toquei no Salário Mínimo, outra banda importante no cenário nacional, e em diversas bandas de cover pela noite. Mais ou menos em 2000 comecei a estudar música formalmente, o que faço ainda com alguma frequência. Estou com a King Bird desde 2005. Preferi me afastar um pouco dos trabalhos cover, porque o desgaste estava sendo muito maior que a recompensa financeira. E desde que minha filha nasceu (há 1 ano e meio) preferi ficar mais tempo com ela. Hoje meu foco, além da King Bird, que é meu trabalho principal e que me consome mais tempo, também toco na banda Makinária Rock, e no Damagewar, com a qual voltei a tocar Thrash Metal depois de uns 15 anos. Foi bom saber que ainda tenho habilidade pra tocar uma música muito mais rápida e pesada.


HMB: Quais são as mudanças, que você vê no cenário Heavy Metal de 1987 para cá?
Marcelo: Acredito que a grande diferença seja que hoje em dia, praticamente não se vende mais discos. O grande público hoje, se contenta em ter apenas as músicas em formato digital, diferentemente da época em que nós ficávamos desesperados atrás dos vinis e passávamos horas ouvindo e lendo todo o encarte, ficha técnica, letras, agradecimentos, etc.
Os shows hoje são muito melhor estruturados, porém os locais são cada vez mais raros. Um bar ou outro abre as portas pras bandas autorais, a maioria das casas, só dão espaço para as bandas cover. Lembro que nos anos 80 rolavam muitos shows em colégios, hoje em dia não rolam mais. Também lembro que rolou um festival no antigo Teatro Mambembe durante um mês, às segundas e terças feiras e foram todos lotados. Parece que o público perdeu um pouco do interesse de ir a shows de bandas underground. E não se pode falar que as bandas atuais não são competentes. Há um grande revival de bandas que acabaram e voltaram, mas também tem muita gente nova fazendo muito som bom por aí.

HMB: O desinteresse do público, não seria porque há um inchaço no cenário? Afinal, pelo menos no Heavy Metal, todo mundo é músico ou pretende ser músico?
Marcelo: Esse pode ser um dos fatores, claro. Além disso, quem não é músico é jornalista, promotor de eventos ou exerce alguma outra atividade ligada ao meio. Mas também acho que de certa forma, se as redes sociais ajudam na divulgação de bandas, por outro lado também gerou certo comodismo. O cara abre o You Tube e assiste aos shows completos da banda preferida dele sem sair de casa. Até hoje eu vivo em buracos assistindo bandas de tudo que é estilo. Se eu não estiver tocando, fatalmente você vai me encontrar em algum lugar curtindo alguma banda. Esse entusiasmo eu cultivo desde que me envolvi com a música, e não é pelo fato de ser músico que não vou curtir o trabalho de outros músicos. É claro que temos que estar antenados, nas mudanças, isso é inevitável. Eu também uso essas ferramentas digitais, assisto muita coisa na internet, mas não deixo de ver ao vivo. 


HMB: Ainda tentando explorar o pensamento. Então no cenário Underground, como todo mundo está envolvido com alguma atividade, relacionada á música, pode ser que sejamos uma nação de concorrentes e não de fãs?
Marcelo: De maneira alguma. O rock é uma música cativante e empolgante, que faz nascer uma vontade de participar, além de ser fã. Em geral tem disso, o garoto começa a ouvir e imediatamente se identifica, querendo tocar como seu ídolo. Isso faz com que, além de fãs, sejamos contribuintes da cena. Tocamos, escrevemos, organizamos, produzimos.
No âmbito profissional, como em qualquer área de atuação, isso acaba gerando uma concorrência, o que é muito natural, mas acredito que não seja uma regra. 

HMB: Recentemente, houveram mudanças na King Bird ultimamente, conte-nos tudo que está rolando com a banda agora.
Marcelo: Sim. A formação vinha atuando junta há nove anos, mas o João Luiz resolveu seguir outras propostas de trabalho. A nós coube apenas respeitar e apoiar a sua decisão e correr atrás do prejuízo (risos).
De imediato nos reunimos para dar seguimento ao trabalho e recrutar um novo cantor. Já estávamos com toda a parte instrumental gravada para um novo álbum e  não foi muito difícil escolher o Tom Cremon pra assumir o microfone do pássaro, afinal o cara é um grande talento e chegou com muita vontade de contribuir. Ele já está plenamente adaptado e pronto para entrar em estúdio e registrar os vocais das onze faixas do novo álbum, que esperamos que esteja pronto no segundo semestre. Além disso, já houve a de estreia dessa nova fase. Dia 28 de junho no Sesc Belenzinho, aqui em São Paulo, a partir daí esperamos continuar fazendo shows, que é o que mais gostamos.


HMB: E como foi encontrar um novo cantor? Pelo visto vocês já o conheciam, ou pelo menos não ouvi nada a respeito de você terem feito audições com outras pessoas.
Marcelo: Nós já o conhecíamos sim, através dos outros trabalhos dele. Foi tudo muito rápido. Assim que o João saiu começamos a nos organizar pra continuar o vôo. Tínhamos uma lista com uns quatro ou cinco nomes e colocamos em ordem de prioridade. O Tom foi o primeiro e como rolou muito bem,  já fechamos. Não quisemos ficar fazendo audições. Como já sabíamos o que queríamos, fomos direto ao assunto, e se não desse certo com ele por qualquer questão,  com certeza teria dado com os outros nomes que tínhamos, que são todos muito competentes. Na real nós sentamos, conversamos e batemos o martelo. Marcamos uma sessão de fotos e divulgamos a notícia. A certeza de que estávamos no caminho certo era tão grande que a última coisa que fizemos foi cair para o estúdio pra tocar (risos).

HMB: Qual é a grande sacada para que uma banda, como o King Bird, tenha longevidade e se mantenha sendo relevante para o cenário?
Marcelo: Acho que vários fatores contribuíram a nosso favor.
Somos amigos desde antes de a King Bird existir e já havíamos tocado juntos em outros projetos. Essa amizade perdura até hoje e com a experiência aprendemos a respeitar sempre as opiniões de cada um. Sempre mantivemos um direcionamento e foco no trabalho da banda, mesmo que cada um de nós tenha gostos distintos. Eu, por exemplo, ouço muito Hardcore, mas nunca iria querer tocar um The Exploited dentro da King Bird. Também temos grande apoio de nossas famílias, amigos e fãs. Sem esse apoio não sei se conseguiríamos atravessar tantos desafios. E o fator mais clichê, e o mais verdadeiro: somos loucos e apaixonados pelo que fazemos. A última formação, como falei, atuou junta por nove anos, e agora estamos começando uma fase que espero que dure pelo menos mais uns 30 anos, se assim Deus permitir (risos).

HMB: Essa diversidade de gostos acaba influenciando nas composições, mesmo que sua música não siga a linha do The Exploited, por exemplo?
Marcelo: Somos um imã de influências (risos). Antes da King Bird eu vinha de uma fase em que explorava muito o uso de bumbo duplo e tive que aprender a segurar o ímpeto pra não poluir demais as músicas, mas você vai perceber que os bumbos estão lá, muito discretamente, mas estão. Se ouço uma música com uma frase de batera a mil por hora, provavelmente ela não caberá no contexto da King Bird, mas nada impede que eu a adapte e encaixe em algum lugar da música. Da mesma forma, uma música latina que é riquíssima em ritmos. Muitas vezes o público não percebe isso, e às vezes nem os companheiros de banda (risos). Digo isso sob o ponto de vista do baterista, mas vale também para os outros músicos. 


HMB: Então, as possibilidades de ter um vasto leque de influências, seja benéfica não apenas para a King Bird, mas para as outras bandas em que você toca?
Marcelo: Sem dúvida que sim. Tudo é uma questão de bom senso. E o meu próprio trabalho dentro da King Bird, acaba influenciando a forma de abordar as músicas do Makinária e do próprio Damagewar. Claro que sempre respeitando as particularidades de cada banda.

HMB: Você toca em três bandas com sonoridades diferentes, está seria a forma que você encontrou para colocar para fora todo a sua bagagem musical?
Marcelo: Não foi proposital, mas se parar pra pensar, acho que naturalmente foi isso mesmo que aconteceu. E dentro dessa linha, também gosto de mudar todo o posicionamento do meu kit de batera, adaptando pra cada trabalho. Eu sempre tenho estilos diversos dentro do meu player. No mesmo dia ouço Bad Company, Pantera, Lynnyrd Skynyrd, Havoc, Gbh, Exodus, MC5, Deep Purple, etc. É natural pra mim, querer tocar um pouco de cada coisa que escuto. Ou seja, ainda está faltando desenvolver outros projetos.

HMB: E falando no seu player, qual a banda que quando você ouve, dá vontade de sair correndo e gritando na rua?
Marcelo: Difícil hein!  Eu não conseguiria citar apenas uma. Mas sempre ouvi muito Lynyrd Skynyrd, Exodus, Van Halen, Black Sabbath, Dorsal, Judas Priest. E mais recentemente tenho pirado com Black Country Communion, Chickenfoot, Havoc e Suicidal Angels. Não saio correndo e gritando, mas que me dá uma vontade enorme de abrir uma cerveja pra acompanhar, disso você pode ter certeza. 

HMB: Você pratica algum exercício para manter a forma, e tem alguma dica que possa dar para quem está começando a tocar bateria?
Marcelo: Como eu comecei a estudar muito tarde, tenho que correr atrás. Meus estudos dependem muito do que estou fazendo no momento. Se tenho muitos shows estudo menos. Quando tenho mais tempo estudo mais, tenho aulas com o Vanderlei dos Santos, um cara que me ensinou muita coisa. Diariamente faço exercícios na velha borrachinha. Às vezes em frente à TV enquanto assisto a um jogo do Timão ou, outro programa qualquer, fico ali praticando rudimentos com o metrônomo ligado. Pratico leitura, solos de caixa marcial, stick control e outros fundamentos. Quando tenho mais tempo pratico na própria bateria, aí adiciono o estudo de pedal duplo, toco músicas em playback e ritmos variados. Hoje eu percebo o quanto perdi em não ter estudado quando comecei a tocar. Por isso, acho que não sou muito indicado pra dar uma dica, mas já que você pediu, minha dica é: estude muito, toque muito, se dedique e não desanime. A velocidade é o menos importante no início, procure ter toques limpos em primeiro lugar e você vai atingir a velocidade naturalmente. Hoje temos boas opções de vídeo-aulas, mas principalmente no início, um professor de confiança e indispensável.


HMB: Planos para o futuro?
Marcelo: Na real não sou de ficar fazendo muitas projeções para o futuro, deixo o vento levar e procuro curtir o que estou fazendo do momento. Mas de imediato pretendo continuar tocando com minhas bandas, gravando e lançando bons trabalhos. O primeiro ato é esse show de estréia do Tom na King Bird, e o segundo é a finalização do novo álbum. Como sempre, prestigiar ao vivo as bandas que eu curto e comprar seus CD's.  É a minha maneira de colaborar com a cena, sempre sendo verdadeiro, sem sacanear, sem passar por cima de ninguém.

HMB: Resuma Marcelo “Korujão” Ladwig em uma palavra ou frase.
Marcelo: Difícil falar de si mesmo (risos).  Sou um cara da música, que vive pela música e ama a família e amigos. Não sou o Pelé, mas faço meus golzinhos. Pingou na área é caixa.

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Marcelo: Eu que te agradeço pelo espaço. Somos amigos de longa data, já tocamos juntos e espero que um dia possamos fazer algo de novo (Tá vendo? Isso é um plano pro futuro (risos).
Agradeço aos leitores que perderam um pouco de tempo aqui lendo essa conversa, aos fãs da King Bird, que são importantíssimos sempre, e em especial nesse momento de transição. O rock está muito vivo e vejo que apesar de ter ficado um pouco mais no underground, os fãs dessa música estão sempre surgindo. É possível juntar num mesmo palco, músicos da década de 70 e novos músicos. Ou seja, estamos vivos e ainda vamos fazer muito barulho.
Long Live Rock'n Roll!

Grande abraço a todos!

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