quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Luiz Carlos Louzada, workaholic


Luiz Carlos Louzada, vocalista da entidade do Heavy Metal Nacional, Vulcano, mas também atua na mesma função com Hierarchical Punishment e Chemical Disaster, além de baterista das bandas Predatory e Repulsão Explícita. E mais, atua na Violent Records, selo que já lançou vinte e nove cd´s e... Quer saber... Leia lá... O Cara é uma máquina de trabalhar.

Heavy Metal Breakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, fale-nos sobre você e suas atividades.
Luiz Carlos Louzada: Bem, posso falar sobre meu momento atual, afinal, além de vocal do Vulcano, sou vocal dos grupos Hierarchical Punishment e Chemical Disaster, além de batera dos grupos Predatory e Repulsão Explícita. No passado, fui batera de grupos como K.O.V., Blind, White Frogs, Influxo, Preguh, Intrisicum, Front Attack Line, Chaosmaster. Já gravei 10 álbuns, além de inúmeras demos; participações em coletâneas também foram muuuuuuuuuuitas. Além das bandas, tenho há dez anos a Violent Records.

HMB: Um currículo de respeito! Como você se envolveu com a música?
Luiz Carlos: Quando eu era moleque, na casa de seis ou sete anos, uma tia me deu alguns EPs de sete polegadas, de bandas como Beatles e Rolling Stones, além de outros artistas dos anos '60, como The Jet Black's, Sam the Sham & the Pharaohs, além do debut-LP do Secos & Molhados (de 1973) e uma compilação (também em LP) que tinha Kiss, Bill Haley e uma cacetada de grupos ligados à história do Rock. Na época, o militarismo ainda controlava o país e meus pais eram ligados ao samba e demais ritmos impostos pelos programas televisivos. Portanto, o fato de eu passar a ouvir esses discos que citei, numa antiga Sonata (pick-up portatil dos anos '60) que também ganhei dessa mesma tia, era de se estranhar para os conservadores da família. Poucos anos depois, ganhei de meus pais um rádio gravador portátil e meus primos mais velhos, que já curtiam Rock n' Roll na virada dos anos 70 para os 80, passaram a me dar fitas K-7 com gravações de clássicos álbuns de grupos como Black Sabbath, AC/DC, Triumph, Iron Maiden, Deep Purple, etc. Como eu ouvia esse material todo dia, logo que fiquei sabendo que estes primos tocavam em bandas de Rock, passei a aporrinhá-los, para que me deixassem ver os ensaios. Em 1983, o Kiss veio ao Brasil numa tour memorável. Lógico que eu não tinha idade para ir ao show, mas gravei o áudio do "especial" transmitido pela Globo e aquela fita "gastou" de tanto que eu a escutei. Na mesma época, passei a ir aos ensaios do Poseidon (banda santista que fazia covers Rock n'Roll, e um de meus primos tocava batera) e foi então que botei na cabeça que eu faria parte do mundo Rock n' Roll. 30 anos depois, não me arrependo de nada que tenha feito, pois mesmos os "tiros n'água", serviram de base para experiências mais amadurecidas. E já perdi as contas de quantas vezes fui a um estúdio gravar algo, seja como vocalista ou mesmo como baterista, pois comecei a participar de bandas no final dos anos 80, e quando não fazia uma função, estava envolvido com a outra. Só acho que o fato de eu ter sido um autodidata, retardou muito meu desenvolvimento como baterista, pois se na época que comecei a tocar, eu tivesse frequentado aulas, meu desempenho teria sido melhor, nos primeiros grupos por onde passei.
Portanto, gurizada, estude seu instrumento antes de se aventurar em uma banda. Há não ser que seja apenas "uma fase", como meus pais sempre falavam aos parentes e conhecidos, quando me viam sair de casa carregando uma caixa de bateria embaixo de um braço, uma mochila com um chimbau e um par de baquetas, e indo pegar um ônibus pra chegar no local de ensaio (sempre na casa de algum "brother"), que raramente era próximo de onde eu morava (risos)!


HMB: Como você enxerga, em comparação ao seu início, o cenário da música pesada hoje em dia?
Luiz Carlos: Butz, quanta diferença! Quando entrei na "cena" nos anos '80, a gente se contentava com instrumentos musicais ruins (isso inclui os amplificadores, mesa de som, potencia, caixas de som) e mesmo assim, a gente "fez acontecer", tanto é que o Brasil é referencia mundial na música extrema, considerado um "celeiro" de bandas altamente influentes na segunda metade dos anos 80. E eu pude comprovar isso, em bate-papos com fãs de musica pesada, a cada tour que faço com o Vulcano fora do Brasil, seja na Europa ou mesmo em shows em países Sul-americanos. No entanto, hoje, zilhões de bandas conseguem acesso a bons instrumentos, além de muita informação, seja sobre estudos (na área musical em geral), ou mesmo com relação ao universo do Rock. Há trinta anos a gente raramente encontrava alguma revista ou poster de Rock, que pudesse ampliar nossos conhecimentos. E foi aí que os zines tiveram um papel importantíssimo, pois os zineiros repassam informações que as próprias bandas encaminhavam.
Eu, como também editei zine no passado (além de ter feito muitas "pontas" como colaborador em zines de amigos), sempre tive prazer em me corresponder com galera de bandas, distros e zines. Antes de a internet chegar "chegando", o maior "barato" era chegar do trampo e conferir as correspondências. Respondia às cartas que eu recebia sempre ouvindo fitas k-7 c/inúmeras demos que as bandas me enviavam, então, diferente de muita gente que conheço, sempre ouvi muito mais bandas da cena Underground, do que os grandes medalhões, principalmente a partir dos anos 90, época em que realmente parei de acompanhar lançamento de banda grande, por pura falta de tempo, já que eu priorizava ouvir bandas de caras que viviam a minha realidade (tinham banda, tocavam em pequenos bares, gravavam demo e repassavam em fitas k-7). Em suma, hoje está tudo tão fácil, que o próprio público em sua maioria, não veste a camisa com o mesmo furor de outrora. Mas não culpo ninguém por isso, são apenas sinais dos tempos. Hoje em dia, com minhas bandas paralelas, posso pegar um publico de dez pagantes, simplesmente, porque show de banda Underground, não é o suficiente para arrastar a galera para fora de casa, como ocorria há vinte anos. Até porque hoje em dia, você no conforto do lar, pode conectar sua moderna TV na internet, ligada a um home theater e ver os maiores shows do mundo pelo youtube. Já há vinte anos, se você perdesse um sábado de show por qualquer motivo, todos os seus amigos iriam ficar eternamente falando: "Pô, tu não foi ao show? Perdeu!"

HMB: Entendo perfeitamente o que você disse! Na sua visão, como as bandas atuais, poderiam convencer o público a sair do "conforto" do seu lar e acompanhar mais de perto o que acontece no cenário Underground?
Luiz Carlos: Pergunta difícil, pois encontro esta situação frequentemente, quando toco com minhas bandas paralelas. E olha que quando eu produzo um evento, sempre levo material promo da Violent Recs, oferecendo à galera que fica até o final, prestigiando os grupos que tocam por último; sabe aquele papo de banda que "não posso ficar até o fim”? Os caras de banda que já tocaram na noite, chegam e se desculpam para não ficar até o final. Já o publico, vão saindo de fininho, e quando chega a ultima banda, tem 1/3 da galera que estatava, quando o evento estava bacana de galera. Já os que sequer saem de casa para ver show de banda Underground, ainda tem uma desculpa famosa "pô, nunca ouvi falar dessa banda". E aí, entra o oráculo do Google, que diz que é impossível uma banda que já tem material lançado no mercado, ser "desconhecida", afinal, quem tem banda e grava um material, quer atingir um publico alvo. Para isso, a banda disponibiliza links diversos com vídeos, resenhas, ou mesmo o áudio para ampliar o leque de possíveis fãs. Então, só quem tem preguiça de procurar por informações, não conhece uma banda. E o mais difícil é fazer um cara preguiçoso sair de casa e colar num bar que tem som ao vivo de banda Underground. Acho que a coisa só vai mudar, quando a gente oferecer R$ 100 para o público nos ver tocar, já que em media é o que custa para ver uma banda gringa de porte médio Underground em Sampa. Enquanto isso tudo acontece no mundo underground, a gente segue compondo, gravando e lançando material em formato físico (além do digital, óbvio), pois, daqui quinze anos ou mais, ainda será possível abrir o armário e tirar uma cópia de um disco bacana (vinil ou CD) que fez nossa cabeça em determinado período de nossas vidas. É o que faço, quando me bate uma nostalgia de ouvir só minha coleção de LPs, de títulos que comprei há vinte anos, e continua impecável!

HMB: Você também acha que o fã de Heavy Metal é acima de tudo um colecionar?
Luiz Carlos: De uma forma generalizada, sim, o cara que curte Metal, gosta de colecionar, mas enquanto 1/3 do público gosta de ter em mãos LPs, CDs, K-7s, DVDs, camisas de suas bandas favoritas, 2/3 da galera se contenta em ter mp3 em seus HDs. Assim, ouvem música via celular, players de carro, players portáteis (c/entrada USB), notebooks e por aí vai. Essa galera que curte Metal, mas não sabe o que é entrar numa loja de discos/CDs e fuçar, atrás de novidade, ou mesmo o pessoal que vai aos shows grandes e no máximo compra uma camiseta, gastando o resto da grana com cerveja, não tem esse vírus da coleção atual. Muitos possuem uma coleção de álbuns do tempo em que eram adolescentes, mas de dez anos pra cá, muitos casaram e optaram em gastar sua grana com muita coisa, menos gastar comprando discos. Eu, até hoje, amplio minha coleção de CDs, a passos largos e, só não continuo comprando LPs, pois prefiro o som "limpo", na contramão de muita gente do Underground que prefere ouvir o som proveniente do sulco do vinil. Não me desfaço da minha coleção de vinil, muito mais pelo saudosismo de parar pra ouvir um álbum, com arte gráfica que salta aos olhos, pela dimensão (como se fosse um "quadro", muitas vezes). Mas gosto da pressão sonora de gravações digitais. E acompanho o que acontece na cena Underground com muito mais tesão do que acompanhar lançamentos de bandas clássicas (não que eu não ouça as grandes bandas que fizeram minha cabeça quando jovem), simplesmente, porque em muitos casos, a boa música continua nos porões, seja em megalópoles ou não.


HMB: Eu também gosto de descobrir coisas novas. O que você acha da atual safra de bandas brasileiras?
Luiz Carlos: Cara, o Brasil não deve nada à cena alguma, tamanho o poder de fogo de nossas bandas. E comprovo isso a cada tour que realizo com o Vulcano, pois eu sempre assisto aos shows das bandas de abertura, diferente de muuuuuuuuita banda que chega ao show meia hora antes de tocar e vaza meia hora depois que toca. Meu interesse por bandas desconhecidas é tanto que me motivou a lançar em CD (prensado, nada de CD-r) o projeto "Endless Massacre", através da Violent Recs (meu selo, que está na ativa há dez anos). Até o momento foram cinco volumes, em media com vinte grupos, onde no máximo três ou quatro grupos são medalhões da cena, e o restante, pérolas de nosso underground, de todas as regiões do país. No site da Violent Recs, é possível ler resenhas não só das cinco edições que já lancei no mercado, mas também de meus outros lançamentos  que já somam vinte e nove CDs em catalogo, muitos inclusive, em parceria com selos parceiros e batalhadores da cena.

HMB: E como é o critério de escolha dessas bandas, tanto para as coletâneas, quando para o lançamento individual? Você recebe muitos materiais de bandas brasileiras?
Luiz Carlos: Realmente, só lanço o que gosto; como não dependo financeiramente da Violent Recs, não me preocupo se determinado lançamento venderá X ou Y e o critério para ter o crivo de meu selo é que o trabalho seja feito com honestidade e paixão à música underground. Obviamente que o foco da Violent condiz com o nome do selo e, de uns dois anos pra cá, especificamente, Death e Black Metal, mas sempre apoiei os gêneros mais extremos, inclusive Grindcore. Mas como meu gosto musical é bem amplo, criei a Bagaça Records com o intuito de lançar grupos cuja sonoridade não se encaixa no propósito da Violent Recs. Aos interessados, recomendo uma visita ao link: www.bagacarecs.blogspot.com.br
Informação underground nunca é demais, certo?

HMB: Certíssimo! E como você trabalha por esses lançamentos ou até, para um licenciamento dos mesmos no exterior?
Luiz Carlos: Até o momento não houveram propostas de licenciamentos no exterior, mas já fiz a intermediação para um lançamento nos EUA (através da Infra-Mundo Recs) de um split-cd do Infector (grupo Death Metal de Praia Grande, São Paulo) com o grupo Inbelica, do México. Isto porque, no caso do material do Infector, a banda optou em utilizar musicas lançadas no segundo full-lenght, chamado Anguish, que saiu pela Violent Recs em 2011. Quanto à forma de trabalhar a distribuição dos lançamentos de meus selos, efetuo vendas ou trocas via internet (com selos e distros daqui e do exterior) e, normalmente, as cópias esgotam num período de três a quatro anos. Bandas que possuem vídeos oficiais e que tocam com frequência, acabam esgotando as copias em menos tempo, já que são duas ótimas formas de exposição (shows + clipes no youtube, por exemplo). A promoção dos lançamentos é feita através de flyers impressos (em toda postagem efetuada, encaminho flyers dos títulos mais recentes), além de divulgação via Internet, com envio de cópias promocionais para webzines (ou mesmo zines impressos).Também divulgo títulos da Violent Recs em pastas bônus mp3 de promos multi-midia que lanço em CD-r e arrego constantemente em tudo que é show que realizo com meus grupos, na intenção de presentear músicos de outros grupos que compartilham os eventos, além de entregar à produtores que acabo conhecendo, ou ainda, envio cópias desses promos para clientes que efetuam compras acima de um determinado gasto no site da Violent Recs, enfim, sempre há maneiras alternativas para divulgar um trabalho.


HMB: Não existe cenário da música pesada sem muito trabalho duro? O que você acha dessa prática de divulgar a banda apenas em redes sociais?
Luiz Carlos: A música pesada surgiu à parte da grande mídia, e vive intensamente nos pubs espalhados mundo afora, portanto, atinge um público, que normalmente conhece as bandas que dá suporte (é normal, a galera decorar nome de álbuns e, muitas vezes, nome dos integrantes). Quem monta uma banda e não se preocupa em espalhar a praga, também não deve se lamentar que determinados grupos, tiveram sorte. A sorte surge pra quem arregaça as mangas e está sempre disposto a abrir mão de seu tempo livre, lazer familiar e lógico, sempre custeado com os trocados nossos de cada dia, pois banda que não investe, é atropelada. Vejo que a Internet tá aí pra ajudar, mas banda de verdade, lança disco, prensado em fabrica, mesmo com tiragem limitada. E sou do tempo que trombava camarada de bandas em festivais pelo interior e, da mesma forma que eu carregava fitas K-7 de minhas bandas na mochila, eu sempre ganhava outras, e quando eu chegava em casa, compartilhava cópias aos amigos que davam suporte à cena Underground. O marketing virtual é bom, pois atinge um número absurdo de usuarios da Internet, independente da distancia, mas nada supera o "face to face" quando você bate-papo com uma pessoa e presenteia com um trabalho seu, que rapidamente, é guardado para um deleite posterior. Esse tipo de abordagem de divulgação é algo bem pessoal, e é bem mais forte, do que qualquer link que a gente recebe para curtir ao clicar, mas que em questão de segundos, já esquecemos o nome do grupo, por mais bacana que seja a banda.

HMB: Você acha que, o romantismo que o Heavy Metal, e a música pesada em geral, tinham nos anos 80, deram lugar ao um exagero profissional, que se tornou cansativo para o ouvinte?
Luiz Carlos: Acho que não, pois como tudo na vida, o publico metálico se recicla com o tempo: enquanto muitos deixam de curtir com a intensidade da juventude, novos fãs chegam ao universo rockeiro, curtindo o que tá rolando na cena, acompanhando as mudanças na música pesada, seja em termos de execução, produção, composições, etc. Claro, de repente, eu prefiro ouvir o Reign in Blood uma vez por dia, por uma semana inteira e não me cansar, enquanto o Christ Illusion (que é beeem mais recente) tá do lado e eu sequer penso em ouvir. Não por ser ruim, pelo contrario, mas o romantismo de ouvir um álbum clássico, que fez minha cabeça quando jovem, ainda faz o coração bater forte, pulsando no ritmo dos bumbos de pedradas como Piece by Piece, Necrophobic, Reborn e Epidemic, saca? Nesse exemplo que citei os músicos evoluíram com o tempo, obtiveram melhores produções, ganharam muito mais respeito na cena, tornando-se referencias de um gênero no mundo todo e podem agradar o publico antigo, e seguir a carreira produzindo novos trabalhos, ganhando uma parcela nova de publico, sem que tenham que voltar a lançar álbuns com produção mais barata ou finalizar arranjos com mais simplicidade musical.

HMB: E convenhamos que álbum mal gravado, hoje em dia, não tem como concorrer na disputa pelo fã. O que você acha que a tecnologia trouxe de bom e de ruim para o Heavy Metal?
Luiz Carlos: Foi como disse antes, particularmente, prefiro ouvir um som limpo, desprovido de excesso de ruídos, mas há um público que curte muito produções de áudio com limitações propositais, principalmente a galera que curte Grind/Noise, Raw Black Metal, Gore/Splatter, Harsh/Industrial. Então, há espaço na cena tanto para produções bem feitas, quanto para lançamentos com captação de áudio tosca (risos)! E, quando a proposta da banda é boa, mesmo com produção de áudio ruim, a gente consegue identificar uma banda bacana. Há excelentes bandas da cena Crust/Grind, por exemplo, que lançam trampos quase sempre com gravação meia-boca, principalmente por conta de falta de grana para gastar com horas de estúdio. É que, normalmente, grupos que lançam trabalhos mal gravados, não possuem o mesmo foco de uma banda que investe pesado (leia-se verba!) em produções que possam ser equiparadas à qualquer disco de banda gringa do primeiro escalão. Por exemplo, pegue bandas que foram modinha entre os jovens em meados dos anos 90, como Stratovarius, Hammerfall e afins; se estes grupos lançassem álbuns mal gravados não teriam atingido o status que obtiveram durante os anos 2000. Ou mesmo as bandas Nu-Metal que caíram no gosto de uma grande molecada por anos, o filtro principal era se a gravação era top ou não. Bandas como Disturbed, Linkin Park e Korn não teriam ido longe com gravações ruins.
Enfim, como músico, vejo que a tecnologia chegou principalmente para ajudar no processo de gravação e mixagem, pois mínimos detalhes de execução são possíveis de corrigir, sem perder horas e horas de estúdio executando as mesmas notas que já haviam sido captadas e aprovadas. Imagine uma banda de ProgRock, com musicas de dez ou doze minutos, onde o batera erra feio no final de uma música. Os caras da banda teriam vontade de esganar o maluco, se não houvesse a possibilidade de refazer apenas o trecho final (risos).

HMB: Como é fazer parte de uma lenda do Heavy Metal nacional, como o Vulcano?
Luiz Carlos: Cara! Vou te dizer que este meu retorno ao grupo no inicio de 2010 foi algo que eu considero como um presente, já que no passado, eu havia integrado o Vulcano por mais de uma ocasião, e sempre foi tipo um aprendizado, saca? Pô, eu passei minha adolescência curtindo o Vulcano, que foi minha principal referencia para ter uma banda (já que sou de Santos, que fica numa região que sempre teve muita banda, seja Metal ou HC!). Creio que seja até interessante explicar meu vínculo com o grupo. Em minha primeira passagem pelo Vulcano, fiquei do fim de 1997 ao começo de 1999 e, mesmo sem termos feito tantos shows, os poucos que rolaram foram memoráveis. Nesta época gravamos três músicas inéditas que saíram de bônus no relançamento do "Live!", de 1985, em CD, pela Cogumelo Recs (que chegou às lojas em 1998). Quando saí do grupo, foi por conta de meu envolvimento com o Chemical Disaster, banda Death Metal que também sou vocal, pois tínhamos finalizado um novo álbum e estávamos à procura de uma gravadora, por conta do término de contrato com a Cogumelo, que havia editado nosso debut LP no fim de 1993. Mas aí, acabei saindo Chemical Disaster, antes mesmo de o grupo acertar o lançamento desse material com a Demise Prods. Eu também tocava batera no Blind e nosso debut CD estava em vias de lançamento, pela Thirteen Recs., selo do Tor, vocal do Zumbis do Espaço. Pude me dedicar a essa fase do Blind, mas acabei voltando ainda em 1999 ao Vulcano, pois tínhamos a meta de escrever um novo álbum, já que a Cogumelo havia editado em CD o Bloody Vengeance e, tanto este quanto o "Live!" deram um ótimo retorno, reaquecedendo o mercado, já que até então, o único lançamento do grupo em CD, era o RatRace, de 1990, e mesmo assim, apenas disponível na Inglaterra pela MetalCore Recs e que era muito difícil de se encontrar por aqui. Bem, conseguimos escrever material suficiente para um álbum de retorno do grupo e em 2000 já estávamos prestes a entrar em estúdio, quando por questões de logística, tive que sair novamente da banda (meu tempo livre não coincidia com os demais). Então, houve uma reformulação geral no grupo, o Zhema optou em não gravar aquele material e no ano seguinte, perdemos o Soto Jr., guitarrista do grupo, que faleceu devido a problemas de pressão alta. No ano seguinte, o Zhema retomou o Vulcano, reescreveu o material que trampamos e soltou o Tales From the Black Book, em 2003. Eu já estava como vocalista do Hierarchical Punishment, além de estar tocando ainda com o Blind e também era o batera do Carnal Desire. Obviamente que acompanhava de perto tudo o que acontecia com o Vulcano, principalmente por conta da amizade que temos. Sentia orgulho de vê-los crescendo novamente, retomando o tempo perdido com o breque que deram entre 1990 e 1994. E eis que em 2008, fui convidado a reassumir os vocais, inicialmente para uma mini-tour pelo Nordeste, mas que, de repente, poderia se estender com planos de um novo álbum. Me desdobrei para me readaptar e pegar o set-list e os ensaios estavam matadores, com um novo line-up e tal. Mas, como nem tudo é fácil, sofri um acidente na empresa onde trabalho e fiquei um mês e meio de molho e, claro, não fiquei no grupo de novo (risos)! Então, como o mundo dá voltas, em 2009, o Zhema me convidou a participar da gravação do álbum Five Skulls and One Chalice, cantando a Steed of Steel e também pude dividir os vocais com o Angel na música "Holocaust (The Second Assault)". Além disso, gravei os vocais para a música "Hexagram", que ficou de fora deste álbum, e somente foi lançada oficialmente, como bônus no relançamento do Tales From the Black Book, em 2013. Bem, após o lançamento do Five Skulls and One Chalice  pela Cogumelo, no fim de 2009, a banda começou a planejar a primeira tour europeia e aí, no início de 2010, eles me chamaram para realizar a tour completa em suporte à este álbum. Como sempre mantive um bom relacionamento com os caras, foi algo gratificante, pois percorremos vários Estados, de todas as regiões de nosso país, além de nos proporcionar uma incrível visita à Bolívia, onde uma verdadeira legião de fãs aguardava por três décadas uma visita da banda. Tudo isso deu uma carga extra de adrenalina para que a tour europeia fosse clássica e memorável para todos. Então, só posso concluir que fazer parte do Vulcano hoje em dia, é muito mais do que eu poderia imaginar, tendo em vista tudo o que já vivi, em cada passagem que fiz pelo grupo e o momento que banda atravessa hoje, com lançamentos de clipes oficiais, álbuns novos em curtos espaços de tempo (tem grupo veterano que fica seis ou sete anos pra lançar um disco novo), shows, contato com fãs, enfim, é algo que nos deixa sempre satisfeitos por tudo.


HMB: Planos para o futuro?
Luiz Carlos: Nossa! Muitos, com certeza! Afinal, com a Violent Recs e Bagaça Recs, tenho uns cinco trabalhos engatilhados até o próximo semestre. Com minhas bandas, Repulsão Explicita finalizando arte gráfica do segundo full-lenght. Vulcano com tour europeia em outubro e possibilidade de mini tour no México,  colada com o último show na Inglaterra, e ainda, aguardando o CD novo chegar da fábrica dentro de um mês, fora o lançamento do LP contendo nosso show gravado na Suécia em 2013 e ainda um EP com material inédito que guardamos para o fim do ano!. Chemical Disaster com novo batera e um CDd contendo material raro que estava engavetado. Hierarchical Punishment reestruturado e se preparando para gravar material novo (enquanto aguardamos o lançamento do CD-tributo ao Agathocles, onde gravamos um medley de dois sons dos belgas). Fora produções de novos vídeos, tanto do Vulcano quanto do Repulsão. Realmente, agenda agitada (risos)!

HMB: Resuma Luiz Carlos Lousada em uma frase ou palavra.
Luiz Carlos: Workaholic.

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Luiz Carlos: Eu que agradeço a oportunidade! E, aos que curtiram acompanhar tudo o que rolou nesse bate-papo, recomendo que usem o oráculo do Google (risos) para encontrar mais informações sobre tudo o que já fiz com meus grupos, selos, etc. E, claro, podem me contatar via facebook (basta digitar meu nome no campo de busca). Não costumo abrir com frequência (confiro apenas umas duas ou três vezes por semana), pois não fui contaminado por esse vício (risos)! Abraços!

Nenhum comentário:

Postar um comentário