quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Paulão Thomaz, rocker sem pátria!


Paulão Thomaz, baterista e fundador das bandas Centúrias, Firebox, Cheap Tequila, Baranga e Camboja, além disso, uma pessoa que há 35 anos vive o cenário da música pesada brasileira e que conquistou seu espaço com muita pancada nos couros de seu instrumento e com isso, acabou se tornando referencia em sua arte. Além disso, Paulão é um cara tranquilo e com muito boa vontade nos concedeu a entrevista a seguir.

Heavy Metal Breakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, fale-nos sobre você e suas atividades.
Paulão Thomaz: Aeee bro valeu! Toco bateria há 35 anos, sempre no Rock, minha primeira banda foi o centúrias gravamos a coletânea SP Metal "e dois discos, o EP Última Noite e o Ninja, todos pela Baratos Afins, depois fui para banda Heavy Metal Firebox, gravamos apenas um disco, isso tudo nos anos 80, gravei um CD com a banda de Rock´n roll, Cheap Tequila também com um CD isso já nos anos 90. Agora estou no Baranga desde  2000, já lançamos cinco CDs, toco também no Kamboja, e estamos gravando o CD de estreia, mas temos um EP com quatro músicas lançado, e gravei também coma banda Mano Sinistra um projeto de viola Rock do Ricardo Vignini, importante músico paulista. isso é um resumo da minha carreira.

HMB: Quais são suas lembranças do cenário nos anos 80?
Paulão: Muito boas! Muitas bandas autorais e em português acontecendo. Harppia, Centúrias, Salário Mínimo, Golpe de Estado, Vírus, Platina e muitas outras. Rock in Rio1. Maravilhoso, tocávamos em teatros, não havia essa coisa de bar infestado de bandas cover. Lembro que havia um teatro aqui no Paraíso (bairro tradicional aqui em São Paulo) chamava-se Teatro Mambembe, os shows eram de terça feira e lotava, vi o Sepultura lá bem no início. Enfim foi muito bacana ajudar a fazer essa história do Metal brasileiro.


HMB: E qual é a sua visão, hoje, do cenário da musica pesada nacional?
Paulão: Como sempre estamos no Underground, o Brasil não é o país do Rock, mas existe uma cena sim, há bons festivais, produtores que fazem shows mesmo com muita dificuldade. Mas estamos ai, como fãs e músicos do bom e velho Rock´n Roll pesado, gravando, tocando música autoral e lançando CDs acho que isso já é um grande avanço, e vamos em frente, fazemos por amor ao rock.

HMB: Mesmo com a indústria musical em franco declínio, você acha que o fã de rock ainda é capaz de sustentar o seu cenário consumindo produtos e merchandize de suas bandas preferidas?
Paulão: Consumir os produtos da banda e comparecer aos shows é a única saída.

HMB: Você foi batera do Firebox, banda que fez certo alarde na época do lançamento da demo Starting Fire, porém, com o lançamento do primeiro álbum, Ou of Control, você se desligou da banda, sua intenção era justamente fazer um trabalho mais voltado ao Rock´n Roll, como no Baranga?
Paulão: O Firebox era uma banda muito boa, mas com a saída do Luiz Mariuitti (baixo) que foi para o Angra, a banda perdeu a química, houve alguns desentendimentos com o Michel que era o líder causando a minha saída. Eu estava desiludido com o Heavy Metal, não gostava do direcionamento músical, aquela moda do metal melódico me fez sair do estilo, na verdade eu sempre ouvi muito Rock´n Roll, Slade, Status Quo, Made in Brazil, Patrulha do Espaço e metal anos 80 que era mais cru e direto, ai resolvi tocar um som que me identificava mais e estou até hoje tocando o que eu gosto que o Rock direto sem firulas.

HMB: E com o Baranga você conseguiu seus objetivos musicais?
Paulão: Em parte sim! Fizemos cinco ótimos discos em português, uma banda verdadeira. Abrimos para o Motorhead por duas vezes, fomos ao Chile e muitos shows bons por aqui. Então não posso reclamar. Em outro sentido, fico um pouco frustrado pela falta de profissionalismo, uma banda como a baranga devia ter crescido mais, faltou produtor, empresário, porque chega um momento que a banda para e isso não é bom! Entendeu? Coisas de Brasil.


HMB: Porque você resolveu não participar da volta do Centúrias?
Paulão: Acho que tive o meu momento lá, tenho o maior orgulho porque o Centúrias me deu o que sou hoje, sem querer fizemos história, hoje vou ao show deles e me emociono. Como aquelas músicas são boas... Mas estou afim de outras coisas no Rock e estou fazendo, mas amo aqueles caras.

HMB: Como vem sendo a aceitação dos shows do Baranga?
Paulão: Mesmo tendo, em alguns momentos, problemas técnicos de som, os shows da Baranga, tem muita energia e carisma e esse sempre foi o forte da banda, o lance ao vivo é muito forte, ultimamente o público tem se ausentado dos shows, devido a vários fatores, grana, bares com bandas cover, muitos shows gringos, mas estamos ai na luta, espero que seja uma fase.

HMB: Bandas cover se tornaram uma reclamação recorrente aqui no blog e nas midias sociais em geral. Você acha que o brasileiro é culturalmente influenciado a acreditar que os trabalhos feitos por aqui são de menos qualidade, ao ponto de valorizarem uma cópia, muitas vezes mal feita, dos seus ídolos internacionais?
Paulão: Com certeza sim, as pessoas falam mal dos donos de bar, mas não é culpa deles! É cultural sim e acho que não vai mudar, o gringo é sempre melhor por incrível que pareça até o cover (risos) Já vi bandas sofríveis tocando com a casa cheia, como também tem excelentes bandas eu mesmo faço tributo ao Lynyrd Skynyrd, nada contra, o cover isso sempre existiu, mas trocar totalmente o apoio a essas bandas em detrimento ao som autoral é demais, por outro lado não ha bandas, de qualidade, suficiente para cobrir as noites em todos os bares então o cover é importante. O problema é a total desvalorização do som autoral, temos ótimas bandas por aqui cantando na nossa língua e estamos precisando disso. O país esta falindo e o Rock tem sim, seu papel social também, eu e as bandas que toco se preocupam com isso e não vamos desistir principalmente o Kamboja, que tem em seus temas algumas músicas que tratam da nossa realidade.

HMB: Porque cantar essencialmente em português?
Paulão: Acho que tudo é o objetivo da banda, no meu modo de ver acho legal cantar no seu país uma língua em que todos entendam, veja bem no brasil poucos falam e entendem bem em inglês, certo? Então como passar o recado se não temos uma segunda língua aqui e agora mais que nunca temos que passar o recado em português. Qual a música mais conhecida do Dr. Sin? Futebol, Mulher e Rock´n Roll. A do Korzus? Correria e Catimba! São dois exemplos muito fortes do que estou dizendo.


HMB: E não seria até mesmo por causa das bandas cantarem em inglês, uma forma de acentuar esse lado xenofilista que o brasileiro tem?
Paulão: Sim, com certeza! Essa coisa terçeiro mundista nos afeta muito, não vamos ser hipócritas e falar em 100% nacionalistas, porque não somos! Mesmo porque o Rock não é brasileiro e eu mesmo gosto de muita coisa estrangeira. Mas estamos falando em Rock brasileiro, ai eu acho que tem que ser em português, o Ratos de Porão  faz turnês há muitos anos na Europa cantando em português, ai você fala no Sepultura. Bom ai é outra história, igual a eles nunca mais.

HMB: Você acha que dificilmente alguma banda daqui vai chegar a um patamar equivalente ao Sepultura? Eu acredito que com a estrutura e o investimento certos, isso pode acontecer.
Paulão: Não sei não! Acho muito difícil, o Sepultura estava no lugar certo na hora certa e principalmente com os caras certos, Max e Igor, eu os vi no Aeroanta (casa de shows  dos anos 80 aqui de São Paulo) e nunca havia visto nada igual, era muita adrenalina e carisma juntos. Isso acho que acontece em 1000 anos (risos). Temos bandas com certo sucesso, mas mano, o Sepultura influenciou os gringos, nunca mais vai acontecer isso em termos de Rock.

HMB: Entendi o seu pensamento. Como você se vale das redes sociais para divulgar o seu trabalho?
Paulão: É o Facebook é legal pra divulgar trampo, shows, marketing pessoal, divulgar os endorses. Mas não me iludo não, neguinho fala que tem 1000 likes no vídeo ou no CD, mas na hora do show vão 50 pessoas (risos), o cara não tira a bunda da cadeira pra ir ao teu show, entendeu?

HMB: Então não existe Rock sem muito trabalho duro?
Paulão: Claro que não! A não ser com muita grana pra comprar jabá, mas mesmo assim tem que ter música boa e consistente.

HMB: Nada mais ligado ao rock que a santíssima trindade: cerveja, mulher e Rock... Você acha que, uma banda não tem como errar dentro desse quadro?
Paulão: Acho que já esta desgastado, acho legal ter uma ou outra música com esse tema, mas não ser o principal , isso tudo já esta desgastado.


HMB: Quais são as diferenças líricas do Kamboja e do Baranga?
Paulão: O Baranga sempre foi mais focado na diversão cerveja, mulher, carros. O Kamboja tem uma ou outra assim, isso é inerente ao Rock, mas temos também letras com temas mais sociais, como a hipocrisia da sociedade, a mentira dos políticos e realidade brasileira, acho que estamos precisando protestar uma pouco, não da pra ficar mais alienado.

HMB: Então, a música é um excelente veículo para o protesto?
Paulão: Pode ser sim um veículo de conscientização, mas sem exageros pra não ficar panfletário e chato. Rock´n Roll é diversão também.

HMB: Você sente uma evasão do público nos seus shows?
Paulão: Infelizmente sim, são muitos os fatores que levaram a isso , espero que melhore, situação financeira, shows gringos, covers, etc.


HMB: Planos para o futuro?
Paulão: Continuar gravando, tocando. Enfim, continuar na estrada espalhando a ideologia Rock´ n Roll.

HMB: Resuma Paulão Thomaz em uma frase ou palavra.
Paulão: Rocker sem pátria (risos).

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixa aqui uma mensagem para os nossos leitores.
Paulão: Opa! Obrigado a você. Foi uma boa entrevista perguntas inteligentes, valeu mesmo! Prestigiem as bandas brasileiras, tem muita coisa boa, confiram algumas; Carro Bomba, Kamboja, Baranga, Cracker Blues, Salário Mínimo, Centúrias, Dr. Sin, Korzus, Torture Squad, A.V.C., Golpe de Estado, Saco de Ratos, Makinária Rock e muitas outras. Abraço a todos os leitores, obrigado!

Um comentário:

  1. Conheci o Paulão num show do Centúrias, Overdose e A Chave no Clube dos Aeroviários de SP (na Av. Washington Luis) em 1988! Lembro que ele gritava frases, como: "bando de poser", "vamos agitar, caralho!", "bando de cuzão" etc., chutou os bumbos gigantes da sua bateria e tal. Bem ao estilo Paulão de ser! Uma curiosidade: quem pagou a minha entrada nesse show, pois eu fui só com o dinheiro da condução, foi um guitarrista desconhecido até então, que tinha acabado de entrar na Chave, chamado EDUARDO ARDANUY!!! Peguei o telefone do Paulão, pois fiquei fascinado pelo jeito agressivo dele tocar bateria, e ele disse que dava aulas de bateria. Fiz aulas com ele durante 6 meses na casa dele, na Av. República do Líbano. Ele morava com a mãe e a avó numa casa enorme, e as aulas eram no porão. Época boa! Aprendi muita coisa com ele. Baterista preciso, maduro, com forte presença de palco. Sou fã dele!

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