domingo, 9 de novembro de 2014

Camila Porto, gosto da liberdade que temos para criar.”


Camila Porto, vocalista da banda Swett Storm, além de designer da Three Gates ArtSign, com muita dedicação, ela faz dos seus trabalhos um estilo de vida e uma forma de se expressar. Conversamos com Camila, e nesse bate papo esclarecedor, pudemos conhecer um pouco mais dessa batalhadora do Underground. Confira a seguir.

HM Breakdown: Antes de começarmos, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, fale-nos sobre você e suas atividades.
Camila Porto: Bem, eu gostaria de agradecer pela oportunidade da conversa, é sempre bom este bate papo.
Eu sou Camilla Porto, vocalista da banda Sweet Storm e também desenhista na empresa Three Gates ArtSign. Trabalho com divulgação de bandas, mas minha principal atividade é a arte. Comecei fazendo arte apenas para mim e para a minha banda, e depois comecei a fazer assinaturas para fóruns de jogo e também de música, onde eu frequentava muito. Com o passar do tempo, notei que as ideias amadureceram muito, e eu percebi que a banda precisava de algo mais profissional, então comecei a estudar e ainda estudo técnicas de montagens e desenhos no photoshop. Percebi que, assim como minha banda, a maioria das bandas sofriam com a falta de artes bem elaboradas. Juntei-me ao Peterson e mais alguns amigos e formamos a ThreeGates ArtSign, cujo intuito foi oferecer gravações Demo com baixo custo e o foco principal foi a elaboração de trabalho artístico mais em conta para as bandas também. E vem dando certo, o negócio ainda não deslanchou, mas fico muito grata em trabalhar com a maioria dos músicos que já me deram a oportunidade de colocar minha arte em seus trabalhos.
Este trabalho de divulgação eu faço desde os 16 anos, quando o Myspace era febre e as comunidades no Orkut bombavam. No início, minha ideia era simplesmente conhecer mais sobre mais bandas, foi uma época em que eu baixava e compravas discos, e quanto mais eu ouvia, mais bandas eu queria conhecer, sem me importar com o estilo, bastava eu gostar. Era surpreendente poder conversar com bandas que eu escutava. E isso foi evoluindo, passei a ter um zine, mas infelizmente hoje eu não tenho tempo para continuar, mas garanto que foram ótimos cinco anos. Hoje eu só comando algumas páginas que compartilham informações totalmente underground e brasileiras. Não que eu tenha algo contra o mainstream, mas o underground precisa de mais força e gente trabalhando nele.
Há três anos meu principal foco vem sendo dentro da banda Sweet Storm. Embora pareça clichê, é o meu sonho. Tudo que eu puder fazer por essa banda, farei. Tocar ao lado do Peterson e do Tanaka é vitalizante e esplêndido, é incrível nossa sintonia. Somos crianças e adultos ao mesmo tempo, eu amo a música que fazemos e sei que não se parece com nada que eu já escutei, isso é o que me faz amar ainda mais nosso trabalho, pois ele flui com a nossa cara, é algo nosso.
Estou terminando meus estudos e pretendo em breve ingressar em uma faculdade de música, pois sei que quanto mais eu puder somar na minha música, mais posso contribuir para a cena musical brasileira.

HM Breakdown: E como foi, na época, a aceitação do seu fanzine? Você acredita que o cenário Underground é movido pela paixão das pessoas?
Camila: Eu sempre fui uma pessoa sem papas na língua, quando eu via algo que, na minha concepção, era errado, eu falava. Na época o pessoal adorava, tinha muito pouco canal via internet que oferecia uma divulgação gratuita, nem todos tinham internet em casa, e era o máximo, eu chegava a fazer matéria com cerca de cinco ou seis bandas por semana. Havia pessoas do contra, cheias de frescura. Eu sou de uma cidade que sempre teve muita “panelinha”, conheço gente de banda que se mudou de Uberaba para ter oportunidade, pois aqui não há oportunidades, eram boas pessoas, que faziam um excelente som, mas precisavam ser ouvidas. Ao mesmo tempo em que a maioria adorava o underground, havia os do contra, os que não querem conhecer material novo, que entortam o nariz para som autoral, mas eu não estava nem ai, queria mesmo que aquelas bandas fossem ouvidas. Mais recentemente o zine ganhou um blog, que hoje está fechado. Ele cresceu muito, ganhou colunas, falávamos até do meio ambiente, mas tudo de uma forma underground, gostei muito de falar de tudo, desde o ambiente, a música e o visual do underground, pois afinal isso não é apenas um estilo ou uma música, é um habitat.
Sim, eu acredito e tenho certeza que o underground é movido pela paixão e pela força de vontade. É difícil mexer com isso, como tudo que você faz na sua vida, é complicado de ser feito, pois a partir do momento que algo não depende apenas de você, e sim de vários indivíduos e questões, torna-se complicado. Mas o underground é muito forte, e o melhor de tudo, ele é livre e maior do que pensamos.

HM Breakdown: E como você vê o fato de hoje em dia as pessoas estarem se tornando Web-Bangers e só levantarem a bandeira para deteriorar o que está sendo feito?
Camila: Eu acho errado certas atitudes de egoísmo nesse meio que a gente vive. Hoje, com o avanço da tecnologia, não é apenas o nosso meio musical que anda vivendo online, todos estão assim, o que torna um maior do que o outro é a quantidade de fãs. Eu gosto de pensar e acho certo que cada um tem que contribuir de uma forma ou de outra. Se você não pode ir a eventos, então compre material, ajude uma banda, divulgue outra banda, indique a amigos, compre uma camiseta, um CD, invista, seja em imagem, seja em presença. Se você não faz nem um nem outro, não tem o direito de reclamar de nada. Eu juro para você, prefiro ver um bar com dez pessoas que realmente são bangers do que um bar lotado com pessoas que estão ali só pra fazer cena e dizer: "olha eu estou aqui, eu vivo em evento, sou radical", e não sabem merda nenhuma. A galera tem que se movimentar, tem que levantar a bunda da cadeira, tem que fazer as coisas. Esses falsos bangers que só sabem criticar, falar mal, não fazem nada realmente útil da vida deles, eles só apodrecem, e em algum momento, somem da cena. Gente assim não dura, eles cansam da brincadeira, porque sempre têm seus quinze minutos de fama, os que permanecem são somente os verdadeiros. E a ideia do Web-Bangers, pode ou não ser ruim, é preciso analisar muitas questões para poder criticar e saber o real motivo. Tem cidade por ai que não tem nada, nem um botequim, nem cover, nem mesmo autoral, se o cara não tem grana, o que ele vai fazer? Ficar em casa olhando pela net, às vezes comprar material, quando achar. Mas se você está num lugar que tem pouca ou muita movimentação e, além disso, tem como viajar e acrescentar, você tem que fazer isso mesmo.

HM Breakdown: Perfeito! Você administra o grupo Força e Honra Underground no Facebook, você percebe uma interação das pessoas, e também um interesse das bandas em divulgar seu material por lá?
Camila: Recebemos muito material, todos os dias, muitas bandas têm interesse em divulgar, e isso é muito bacana. A interação das pessoas é mediana, creio que por não ser uma página grande como muitas por ai, com vinte, cinquenta mil curtidas, mas sempre tem gente curtindo, galera que manda mensagem pedindo algum som.
Eu sempre colaborei, postando sempre que podia, assim como em outras páginas. Quando eu entrei no Força e Honra Underground, foi muito engraçado ver a quantidade de gente que pedia o som da minha banda, fiquei surpresa. Eu ficava imaginado se eles sabiam que eu era da banda e se eles realmente estavam curtindo? É o máximo isso.
Tem uma galera mais madura, participativa, gente que realmente sabe o que é o Underground, que curte aquelas bandas. Buscamos mentes mais maduras.


HM Breakdown: E sobre os seus trabalhos gráficos? Falei com o André Luiz esses dias e ele rasgou elogios a você. E mais, fora a capa de Sky and Moon do André Luiz, que outras artes levam a sua assinatura?
Camila: É um trabalho muito importante, pois é a imagem da banda que eu tenho que modelar, trabalhar e criar. Eu gosto bastante, embora algumas vezes seja muito cansativo, mas é muito gratificante poder fazer isso por outras bandas. Sim, recentemente fiz junto com o André Luiz o trabalho completo de encarte para seu novo CD, Sky and Moon, foi muito atrativo trabalhar com ele, pois ele gosta de elementos muito semelhantes aos que eu gosto, em questão de arte, e isso ajudou bastante no momento da criação e foi muito interessante conseguir um resultado simples, que passasse toda a mensagem de seu novo CD. Fora o Sky and Moon, já fiz artes para Catástrofe, Gore Autopsy, Necrohunter, Hate for Revenge, Carnage Hell, entre outros. Recentemente, também fiz um trabalho magnífico com a banda Godslayer, foram duas capas, eles estão usando apenas uma, mas ficou animal, algo bem viking, um campo de guerra com guerreiros representando a banda. E também fiz a atual capa do CD Collector of Souls, da minha banda, ficou genial. Também tive a oportunidade de criar a logo (assinatura) de muitas outras bandas, que para mim é ainda mais gratificante, pois muitas levam aquilo ali por toda a carreira da banda, isso me deixa muito feliz.

HM Breakdown: E quais são os aperfeiçoamentos que você busca para desenvolver este trabalho?
Camila: Assisto videoaulas, algumas matérias a respeito do assunto, muitos trabalhos de outras empresas, em questão de coloração, efeitos de luz. Mas o que eu mais faço é acompanhar canais que nos mostram como utilizar e criar certos efeitos. Sempre tento reproduzir na minha cabeça a arte pronta e transpor na tela do programa.
Sou formada em desenho técnico e artes plásticas, e isso me dá um certo conforto na hora de desenhar, pois já tenho conhecimento de formas e tamanhos, e sempre estou buscando ver aulas e videoaulas de desenhos relacionados a isso.
Mas tem um ponto complicado, não ter muito material voltado para o desenho mais obscuro, dark ou gore, resultando em um ponto escuro na hora da criação. Sempre tento melhorar.

HM Breakdown: Existem muitos sites e blogs com artes relacionadas às que você citou, porém não existe mesmo nenhum que te dê as dicas do trabalho. Você não acha que esta seria uma ferramenta amplamente divulgada, caso alguém resolvesse investir em algo assim?
Camila: Sim, seria interessante uma empresa de maior porte pegar vários artistas e desenhistas por aí espalhados e criar uma forma ou um local de poder centralizar isso e ampliar a divulgação. Também creio que eles não façam isso, pois as gráficas oferecem este tipo de trabalho, não especializado em um estilo musical, mas oferecem o trabalho.
Eu já pensei em criar um blog onde eu filmasse a criação das artes. Mas, ao mesmo tempo, eu me deparo com o fato de eu não ser a pessoa mais especializada na questão de artes gráficas, ainda sou um peixe pequeno diante dos grandiosos que tem por aí. Fico com receio de fazer e quebrar a cara, procuro evoluir para me tornar uma expert.
Mas o blog seria ótimo, podia haver pessoas fazendo vídeos, mostrando a estruturação de desenhos para o metal.

HMB: Sendo assim, você acredita que o Heavy Metal, por si só, é capaz de movimentar um mercado e gerar receita?
Camila: Sim, eu acredito. Creio que tudo deve ser totalmente remodelado, e quando digo remodelado, quero dizer a forma como é vendido, divulgado, deve haver uma maneira eficiente de divulgar esses trabalhos para chegar ao público que irá compra-lo.

HMB: Sua banda, a Sweet Storm, tem uma pegada bem oitentista, mas com uma cara moderna, sempre foi essa a intenção?
Camila: A intenção sempre foi fazer algo com a nossa cara, afastar-se de tudo que nos influencia, pois não queremos que nossa música seja um “Frankenstein”, com pedaços de várias outras bandas. Mas no momento que você se propõe a compor dentro de um determinado estilo, você deve respeitar as raízes deste estilo e utilizar características dele. Hoje, se eu pudesse não escolher estilo nenhum e simplesmente poder fazer a música do jeito que quero, faria isso. E acho o máximo poder soar como algo moderno e oitentista ao mesmo tempo, gosto da liberdade que temos para criar, seja uma música mais pesada, mais simples ou extravagante.


HMB: Porque a banda é um trio?
Camila: Já fomos quatro, no início tínhamos dois guitarristas, mas por questão de tempo, um deles saiu da banda. A ideia é ter no máximo quatro integrantes na banda, caso o baterista entre para a banda, não gostamos de tumulto em termos de produção, o número três tem muitas influencias em cima da gente, por incrível que pareça. Um amigo me falou recentemente que somos um mega power trio, como os pilares que dão sustentação, somos três cabeças pensantes fortes dentro da banda. O porquê mesmo, nem eu sei , mas por incrível que pareça, sinto que tem que ser assim.

HMB: Como está sendo a parceria com a Black Legion Productions?
Camila: Bem, eu já acompanhava há um tempo o trabalho deles, e graças a um parceiro de divulgação, pudemos ter mais contato com este tipo de serviço. Estamos há pouco tempo com a produtora, mas o Alex, que é o responsável, é um cara muito atencioso, que conversa com a gente não apenas sobre o trabalho, mas como um amigo, e isso é muito bom, ele tem algo que eu gosto, ele não tem medo de falar se está ou não ruim, a sinceridade dele é uma virtude que prezo muito, pois mesmo que seja um lazer, também é um trabalho, e isso mostra a seriedade dele. Até o momento está indo bem, mas estamos com grandes expectativas para os próximos meses

HMB: Planos para o futuro?
Camila: Atualmente, estamos colocando muitas coisas em ordem, e recentemente tivemos uma reunião, queremos mudar de Uberaba, não apenas por conta de banda, mas também por questões de emprego e oportunidades, também pretendemos completar o time da banda, pois por mais que a gente toque com bateria programada, não é o certo, a gente precisa de mais alguém, pois sinto que é o que falta para o nosso trabalho deslanchar. Atualmente, também estamos encerrando o Collector of Souls, que vai ser lançado agora em setembro, caso não tenha mais nenhum problema. Queremos que fique com a aparência Underground e bem independente, tanto que estamos fazendo tudo, desde a gravação até a colação dos encartes. Mas não vai deixar de ser um CD bem produzido. E para 2015, já vamos estar embarcando em uma mega produção do nosso segundo CD, Through the Submission, que já estamos fechando com a Black Legion Produções, e também já separando estúdio e produtores. Vamos fazer um book com as setenta e sete fotos e filmes do nosso querido amigo Fábio Fernandes. Quem precisar de um trabalho fotográfico profissional, só falar com esse cara. O restante, creio que vá fluindo.

HMB: Resuma Camila Porto em uma frase ou palavra.
Camila: Uma frase ou uma palavra que me resuma (risos)? Eu diria que sou uma percepção.

HMB: Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores.

Camila: Eu agradeço pela oportunidade de falar sobre mim e meus projetos, espero que a HMB continue com este trabalho magnífico e que cada vez mais pessoas possam ser acrescentadas em todo esse trabalho que vocês e todas as pessoas vem fazendo pela música, não apenas no Brasil, mas no mundo todo.